A cruz dos seguidores de Jesus - Se Liga na Informação

24/04/2018

A cruz dos seguidores de Jesus


Por Flávio Santos
O convite de Jesus para carregar a cruz é para um caminho sem volta. Um movimento único de ida. A imagem usada por Jesus, quando disse que o discípulo que quisesse segui-lo deveria tomar a sua cruz, era a de um criminoso condenado à crucificação.  Ele tinha que carregar cruz até o local da crucificação. Esta imagem era comum para aqueles que ouviram as palavras de Jesus sobre o processo de crucificação. O discípulo verdadeiro é aquele que carrega a cruz até o Gólgota existencial, erige a cruz, morre e não volta mais à velha vida. Bonhoeffer diz que “Ser crucificado é sinônimo de sofrer e morrer rejeitado e repudiado por força da necessidade divina”.
Cruz é renúncia! Cruz é abnegação! O, “eu”, morre. O discípulo agora não segue o seu próprio caminho, e sim o caminho de completa submissão ao senhorio de Cristo. “O discipulado de Jesus envolvia muito mais do que seguir os passos de sua comitiva; significava o compromisso e a dedicação pessoal completa e incondicional a Ele e à sua mensagem”. Ladd, 2003
O discípulo decidido em fé e amor toma a cruz, entra para a nova vida ao lado de Cristo, rompendo assim com os valores do pecado e do mundo, é a crucificação e a mortificação do velho homem. Daí nasce a nova criatura que de agora em diante tem um compromisso de discipulado com Cristo. Em a Cruz e o Ego, Pink diz que “a cruz é mais do que o objeto da fé do cristão, ela é o sinal de discipulado, o princípio pelo qual sua vida deve ser regulada. A “cruz” significa rendição e dedicação a Deus”.


No discipulado proposto pela cruz de Cristo não há lugar para o chamado atual para o discipulado sem arrependimento, sofrimento e mudança de vida. Neste discipulado hodierno, o chamado é venha como está e continue assim, pois Cristo aceita a todos. Mas sabemos que o discipulado baseado na cruz é um convite para mudanças e reivindica renúncias. É um discipulado de crucificação progressiva, onde o discípulo crucifica com Cristo tudo que o atrapalhe na vida de entrega total a Ele. “No discipulado cristão, ao levar pessoas à maturidade, não deixamos a cruz para trás. Longe disso. Antes, ensinamos a completa implicação da cruz, incluindo nossa suprema glorificação”. Stott, 2005
O discípulo que não queria ir à Cruz
Pedro é o seu nome! Jesus fez com que Pedro provasse muitas coisas no relacionamento que tiveram na caminhada no Evangelho. Tornou-se pescador de homens; experimentou a cura de sua sogra; andou sobre as águas; entendeu que Jesus era o Filho de Deus; viu a glória de Jesus na transfiguração; entendeu a eternidade nas palavras de Jesus; tirou dinheiro da boca do peixe. No discipulado de Pedro com Jesus, não lhe foi omitido outros aspectos do Evangelho, como a mudança de vida, a santidade, a renúncia, o sofrimento e, principalmente, a Cruz.
No Getsêmani, onde Jesus começou a experimentar os sofrimentos da Cruz, Pedro está com Ele. Porém, depois de experimentar todas aquelas coisas boas do Evangelho, não quer que Jesus vá à Cruz e, com isso, também não deseja ir, pois com uma espada tenta defender Jesus da crucificação. Jesus o manda guardar a espada e pergunta se acaso não deveria beber daquele cálice de sofrimento.
Foi muito difícil para Jesus ter de enfrentar o sofrimento e viver a Cruz como o Pai havia designado. Para Pedro não foi diferente. E por isso fugiu de viver o Evangelho da renúncia, do sofrimento e da Cruz. Assim, Pedro mostra algumas atitudes que denunciam o seu desejo de não ir à Cruz.
Primeiro, fez de tudo para não ir àquele momento inglório. Enquanto Jesus não tinha sido preso, Pedro estava corajoso. Queria lutar para não deixar o seu mestre morrer a morte dos malditos. Segundo, seguiu Jesus de longe, talvez na esperança de Jesus mostrar o seu poder e não morrer injustamente. Terceiro, negou Jesus quando foi questionado se era discípulo. Pedro disse que daria a vida e iria com Ele para onde quer que fosse. Mas não pôde ir até a Cruz, por isso o Negou três vezes.
O Evangelho sem cruz que se vive hoje em dia é semelhante ao de Pedro naquele momento de sua história. Os evangélicos fazem de tudo para não ir à Cruz, seguindo a Jesus de longe, sendo assim, mais fácil negá-Lo. É mais cômodo viver sem ela. É muito melhor a vida sem negar a si mesmo, tomar a Cruz e segui-Lo. No entanto, quem é discípulo de Jesus é discípulo de Seu Evangelho e de Sua Cruz. É Apenas no Evangelho, que tomamos a Cruz diariamente.
A história de Pedro poderia ter terminado com essa perspectiva, mas ao ressuscitar, Jesus o restaura por meio do amor. E, depois de receber o Espírito Santo, prega o Evangelho da Cruz, escreve cartas à sombra da Cruz e morre crucificado de cabeça para baixo não se achando digno de morrer do mesmo modo que seu discipulador.
Té morrer eu a vou proclamar…
E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais. João 19.35 
A Cruz sempre foi objetivo de Jesus. Ele caminhou em direção ao Calvário. A sua vida, as suas palavras, as suas ações e as suas pregações carregavam como conteúdo principal a Cruz. Na Escritura encontramos a Sua missão de morrer na Cruz pelo mundo. O ápice de seu ministério estava na Cruz. O Bom Pastor era um servo da Cruz. Esse exemplo tem que ser seguido pelos seus discípulos.
João, o discípulo amado, entendeu a sua missão aos pés da Cruz. Os seus olhos contemplaram e testemunharam aquele momento de sofrimento e vergonha do seu discipulador para redenção de todos os que haveriam de crer. O seu testemunho é verdadeiro pela autenticação da crucificação. A Cruz de Jesus motivou João a testemunhar através do seu evangelho os benefícios da cruz de Cristo.
João testificou e, a partir disso, testemunharia a Cruz. Isso quer dizer: “dar testemunho a respeito daquilo que viu, ouviu ou experimentou”. Ora, o que João viu, ouviu e experimentou? Viu a Cruz e todos os seus significados; ouviu as palavras de Jesus e todo o seu impacto; e experimentou os benefícios da morte de Jesus na Cruz. Por isso João disse que o que ele testificava, testemunhava e pregava era verdadeiro.
O propósito de João, e de todos aqueles que pregam a loucura da Cruz, é que as pessoas cressem em Cristo. João sabia a importância de testemunhar acerca da morte de Jesus, pois entendia que as benesses advindas daquele evento só poderiam ser recebidas se as pessoas cressem na morte de Jesus.
Há pelo menos dois sentidos da palavra ”creiais” no Evangelho de João. O primeiro significa: para que vocês continuem crendo, e o segundo: para que vocês também creiam. Em João 19.35, os dois sentidos vigoram. Para os que já acreditavam, deveriam continuar crendo, pois a Cruz é fundamento da nossa fé. E para os que ainda não tinham crido, viessem a crer pelo testemunho da Cruz de Cristo. Somente aqueles que veem, ouvem e experimentam todos os conteúdos, implicações e significados da Cruz de Cristo, podem anunciá-la com verdade.
Havia em certa igreja um pregador muito alto, homem de grande estatura, que dominicalmente se levantava para pregar. Atrás do púlpito ficava um vitral muito lindo, onde tinha uma cruz desenhada. Num culto especial, a igreja convidou outro pregador, este com estatura mediana para aquela festividade da igreja. Quando o pastor da igreja se levantava as pessoas não conseguiam ver o vitral com a cruz. Mas nesse dia, com o novo pregador, os cristãos viram a beleza da cruz estampada no vitral atrás do púlpito. De repente, uma “menininha” chamou a atenção de sua mãe, dizendo: “Mamãe onde está aquele pregador que quando se levanta a gente não poder ver a cruz”?
Quando você se levanta, do ponto de vista da pregação da Palavra e do seu testemunho cristão, as pessoas conseguem ver a beleza e a graça da Cruz de Cristo?
Sim eu amo a mensagem da cruz
Té morrer eu a vou proclamar
Levarei eu também minha cruz
Té por uma coroa trocar
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. 8ª edição. São Leopoldo: Sinodal, 2004
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo, Ed. Hagnos, 2003.
STOTT, John R.W. O chamado para líderes cristãos. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2005, p. 53.

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