TEOLOGIA EXISTENCIAL PARTE 1 = DA IMUTABILIDADE EXISTENCIAL DO DEVIR - Se Liga na Informação

28/05/2018

TEOLOGIA EXISTENCIAL PARTE 1 = DA IMUTABILIDADE EXISTENCIAL DO DEVIR


        O objetivo desta série de artigos é pensar em uma Teologia Existencial com base no livro de Eclesiastes, sem deixar de lado a ortodoxia confessional da Teologia Reformada. A ideia é seguir o pensamento de Salomão e suas reflexões sobre a existência expostas no Livro de Eclesiastes. Também é importante não confundir Teologia Existencial com Existencialismo. A Teologia Existencial conforme aqui colocada é aquela que crê que a Bíblia apresenta respostas satisfatórias para os problemas existenciais do homem em qualquer tempo, época ou lugar.

          Mas antes de continuarmos é preciso uma introdução. Primeiro, é preciso dizer que nosso objetivo, assim como o objetivo de Eclesiastes, é responder à questão existencial “Qual o sentido da existência?”, o Eclesiastes relaciona esse sentido à temporalidade existencial (Eclesiastes 3) e dá uma resposta clara à questão nos últimos versículos do livro.
          Assim, será preciso definir primeiro os termos, interrogando: “O que é sentido?” e “O que é existência?” Sentido, é diferente de significado. Toda seta aponta para um alvo. Chamamos o “alvo” de sentido da seta. Além disso, o sentido não está na própria seta. Existe o arqueiro que posiciona a seta em um sentido, o sentido, portanto está no dono da seta, aquele que está por traz dela. Mas também o sentido é o alvo para o qual a seta aponta. A seta em si mesma não é o sentido de si mesma, o sentido está "fora" ou "além" dela.
            A vida humana, portanto, não encontra sentido dentro desse Universo, que Salomão chama de "debaixo do sol". O sentido está “além”, transcende a esfera da vida terrena. É isso que Salomão buscará discutir. Além disso, assim como a seta, a vida tem um sentido de dupla manifestação, ela tem um sentido de origem (de onde veio a vida?) e um sentido de propósito (para onde vai a vida?).
            Quanto à Existência, o termo traz a ideia de “movimento para fora”. É diferente de Ser. Ser é uma substância imutável, uma essência que permanece. Existência, não, existência é movimento, é vir-a-ser. Mas é um movimento para fora. A seta, quando sai da mão do arqueiro e se move até o alvo, percorre um percursoem movimento. O mesmo acontece com a existência da vida, ela é um percurso de um “de” (origem) a um “para” (propósito). Esse “meio” do “de” ao “para”, esse "ao", é a existência da vida. A vida é um movimento de Ser para o Ser no vir-a-ser.
            Esta é a primeira questão de Eclesiastes: O que é a Existência? Salomão vai dizer que humanamente olhando para a vida ela não passa de um ciclo repetitivo, o dia vai e a noite vem, e sempre está tudo do mesmo jeito. Acordamos, vamos ao trabalho, almoçamos, voltamos ao trabalho comemos e dormimos e isso sempre foi assim, não só nesta geração, mas também na anterior e provavelmente será na próxima.
          Sempre houve guerras, maldade, terremotos e coisas assim no mundo. Sempre houve violência e maldade. A vida sempre foi a mesma, o sol sempre nasceu e se pôs e isso desde que o mundo é mundo. A existência, portanto, é um movimento circular repetitivo, a história humana é um ciclo de repetição e a vida uma mesmice.
           A vida terrena não passa de um ciclo repetitivo como águas que evaporam do rio para na chuva voltarem a ele de novo, tudo se repete e é a mesma coisa sempre. Isso é enfadonho, por isso, a vida é uma perda de tempo humanamente falando. Esta é a primeira seção, após a apresentação, de Eclesiastes. Primeiro Salomão se apresenta, levanta a questão da existencial dos versos  1 ao 3.
          Que a vida é um ciclo repetitivo de mesmice, isso se vê em tudo, a planta nasce, cresce, dá fruto, morre e a semente do seu fruto repete o ciclo e assim repetidamente. O homem nasce, existe e morre. Portanto o “movimento” (existência) da seta da vida é um movimento da vida até a morte, nascemos, temos filhos e morremos e o mesmo se repete com nossos filhos e depois com os netos de nossos filhos e assim para sempre.
          Alguns hinos evangélicos expressam essa mesmice:

“É todo dia a mesma coisa. E você se cansou de tanto sofrimento” – Há uma saída. Shirley Carvalhes.
“O sol já se pôs, a dor não se foi. O que é que eu vou fazer. Cansei de chorar, cansei de sofrer” – Deus vem me socorrer. Bruna Karla.
Amanheceu e tudo está do mesmo jeito que ficou, ficou. Anoiteceu e nada pra você mudou, mudou. O dia vem, o dia vai. A noite chega, a noite vai, vai. E você está aí chorando, sofrendo. E você está aí chorando, sofrendo! – Precisa Ter Fé. Vanilda Bordieri.

         A seção de Eclesiastes que discute o movimento do vir-a-ser da existência (ex-movere) são os versículos 4 a 11 do primeiro capítulo. Podemos chamar esta seção de “Da Imutabilidade Existencial do Devir”:

“Gente nasce e morre, nasce e morre mas nada muda. O sol nasce e se põe e volta a nascer. O vento sopra para o sul e para o norte, vai e vem, sopra aqui e ali, sem chegar a lugar algum. Os rios correm para o mar, mas o mar nunca fica cheio. A água volta para os rios e corre outra vez para o mar. A vida é uma canseira, nem dá para contar! Mesmo que vejamos tudo que existe, não ficamos satisfeitos; podemos ouvir todos os sons mas nem assim ficamos contentes. A História sempre se repete. Não há nada verdadeiramente novo no mundo. Tudo já foi dito ou feito antes. Você pode mostrar alguma coisa nova? Como é que você sabe que isso não existiu há muito tempo? Não podemos nos lembrar do que aconteceu no passado e daqui a algum tempo ninguém vai se lembrar do que nós fizemos.”

Fonte: http://brunosunkey.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pages