Como lidar com a dor do abuso sexual - Se Liga na Informação

04/08/2018

Como lidar com a dor do abuso sexual


Fui abusado sexualmente e estuprado mais de uma vez por dois familiares meus. Sinto até hoje enorme culpa e profundo ódio, e não sei como Deus vê isso. Quando contei aos meus familiares, zombaram de mim e disseram que eu era gay. Tenho pensamentos obsessivos em relação ao sexo, e isso me machuca muito […] Por favor, me ajude – Anônimo.

Fiquei com muita pena de você ao ler um relato tão triste sobre sua vida. Nestas horas, sinto muito não haver neste País corrupto a pena de morte, segundo a Bíblia o permite (executada apenas por autoridades constituídas – Rm 13:1-4), para as “pessoas”[i] assassinas que abusaram sexualmente de você e lhe estupraram:
“Se, contudo, um homem encontrar no campo uma jovem prometida em casamento e a forçar [incluindo, obviamente, uma criança, adolescente ou outro homem], somente o homem morrerá. Não façam nada à moça, pois ela não cometeu pecado algum que mereça a morte. Este caso é semelhante ao daquele que ataca e mata o seu próximo” (Dt 22:25, 26).
Se eu fiquei com raiva, muito mais você tem razões para ter revolta, ira, dor, e desejo de vingança. Deus lhe entende.
Uma das coisas importantes que mencionou em seu e-mail foi que se sente “culpado” pelo abuso. Digo que essa afirmação é significativa porque me possibilitará lhe ajudar a compreender algo da dinâmica do abuso sexual.
O amigo sente essa culpa porque a mente infantil não consegue separar as coisas. A criança, quando maltratada pelo pai, mãe, ou abusada por pessoas mais velhas, “sente” que tudo ocorreu por culpa dela. Além disso, as sugestões do abusador, e a falta de ajuda por parte dos pais contribuem para aumentar esse sentimento gerando dor, amargura, ansiedade, frustração e baixa autoestima.
Porém, você nunca foi o culpado pelo que aconteceu. Foi uma vítima do pecado como muitas outras crianças o foram (e o são). Os maiores culpados na história foram seus pais e irmãos que, infelizmente, além de não lhe protegerem (refiro-me aqui mais especificamente aos seus pais), se deixaram usar pelo Diabo para destruir sua autoestima, ao invés de reconstruí-la e tomar as devidas providências legais contra os estupradores.
Afinal, como um pai e uma mãe maduros ridicularizarão um filho – e na frente dos irmãos! – por este ter sido abusado por um primo maior?! Não é de admirar que não tenha se sentido à vontade para falar-lhes do outro estupro que veio a sofrer aos 13 anos de idade. Seus pais, infelizmente, não são dignos da confiança dos filhos para ouvir sobre os problemas deles.
Por isso, cuide de você mesmo. Seja seu próprio pai e sua própria mãe. Cuide de sua criança interna com palavras de afirmação, amor, aceitação, compreensão, carinho. Essa postura consigo mesmo registrará coisas boas na sua mente.


Vamos falar sobre seus pensamentos.
O Senhor sabe que você não tem culpa alguma pelos tipos de pensamentos que vêm à sua mente. Por isso, não se martirize. O Criador não olha para o amigo do mesmo modo que vê outra pessoa que nunca foi violentada e que, portanto, tem uma mente mais saudável. Jamais perderá sua salvação, pois o sangue de Cristo é infinitamente mais poderoso do que aquilo que lhe incomoda em sua mente!
Vou lhe dar algumas dicas.
1) Aceite sua limitação. Parece contraditório, mas, quanto mais aceitarmos nossas limitações, mais libertos seremos delas. Isso porque não nos pressionaremos tanto e as esquecemos por certos momentos – o que facilita e muito a vida! O amigo não pode mudar seu padrão mental de uma hora para outra e, talvez, não o consiga fazê-lo totalmente. Entretanto, o Senhor o aceita com aquilo que pode oferecer a Ele e isso é o que mais importa.
Portanto, é possível que fique com algumas sequelas. Porém, com o passar do tempo em que o irmão for submetido à psicoterapia, a intensidade dos pensamentos diminuirá. Não deixe de investir em terapia, pois tem uma carta muito pesada para ser levada sem ajuda profissional.
Sempre que os pensamentos lhe assaltarem, lembre-se de que o Senhor lhe entende, perdoa e sabe que foram os abusos (sexual e verbal), a insegurança e o sentimento de abandono que criaram esses caminhos neurais “fora de rota” em sua mente. Esses caminhos “fora de rota” o fazem até mesmo a masturbar-se com mais facilidade que uma pessoa que não foi abusada. Repito: Deus compreende sua situação, e acrescento que Ele o ama muito.
Apegue-se à graça dEle todos os dias, pois o Criador promete lhe sustentar! “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim” (2Co 12:9).
2) Viva sua vida com Cristo, como tem feito e, quando vierem as lembranças ruins, dialogue com o EU:
Fulano (fale seu nome!), estou com você. Ninguém mais abusará de nós. Cuidarei de ti, menino. Deus nos compreende e sabe que não temos culpa alguma.
Esse diálogo como o eu é fundamental para sua mente conseguir registrar que você se ama e se perdoa, e que o “Eu adulto” está apoiando e cuidando do “Eu infantil”, que está ferido e precisa de amor, carinho e cuidados. Tenha certeza de que essa atividade diária contribuirá muito para seu processo cura!
3) Escreva num papel toda a raiva (mesmo que saiam palavrões) que sente dessas pessoas assassinas. Inclusive a mágoa que tem dos pais e irmãos que, na época, foram extremamente ignorantes e insensíveis em lidar com você. Em seguida, queime esse papel. Esse desabafo será uma válvula de escape para que a pressão de sua mente diminua.
4) Faça a terapia do perdão com seus pais e irmãos. Diga a você mesmo, ou escreva: “eu perdoo vocês por não terem me ajudado e me ridicularizado quando contei que fui abusado”. O registro desse perdão na mente será terapêutico. Todavia, não se cobre por um perdão rápido. Dê tempo a si mesmo.
5) Tenha uma vida sexual satisfatória com o cônjuge (1Co 7:2-5). Cuidar da sexualidade é muito importante, pois, satisfeito física e psicologicamente, menos sua mente irá para outros caminhos.
Se o trauma do abuso estiver atrapalhando sua vida sexual, busque imediatamente auxílio psicoterápico. Você conseguirá resolver isso com ajuda divina e profissional.
6) Pratique atividade física. Ela é vital para que nossa mente vá adquirindo mais força para dominar os pensamentos: “O proporcionado esforço das faculdades mentais e físicas evitará a tendência aos pensamentos e atos impuros […] O exercício […] é maravilhosa salvaguarda contra a sobrecarga do cérebro”.[ii]
É impossível que pessoas, especialmente que tenham sido abusadas, vivam felizes e se recuperem do trauma sem atividade física regular.
7) Evite alimentos estimulantes do cérebro como o café, chá-mate, refrigerantes e carnes  (quanto menos carne comer, melhor). A temperança no comer (tirando da dieta o prejudicial e comendo com moderação aquilo que é saudável) também facilita muito o trabalho da mente em dominar as paixões sexuais. Coma verduras e use diariamente frutas, legumes e castanhas. Além disso, beba bastante água e evite ao máximo frituras e açúcar refinado – um baita veneno.
8) Invista o que for preciso para fazer terapia. Não há como curar traumas tão profundos sem ajuda profissional. Com certeza, esse será um dos melhores investimentos de sua vida depois de sua comunhão com Deus, de seu casamento e da atividade física.
9) Quanto tiver quedas em relação à pornografia, peça perdão a Deus e creia que Jesus lhe purifica imediatamente após o ato da masturbação (1Jo 2:1, 2). Ele sabe que sua luta é mais dura que a de outros, e será paciente com você ao longo do processo de cura, restauração e santificação. Viva pela fé (Rm 1:17) e contemple a Jesus, não a você mesmo (ver Hb 12:2). Olhe somente para a cruz e nunca perderá a esperança (1Co 2:2). Seu problema não é capaz de fazer Deus lhe amar menos!

[Antes de postar esse artigo orei por todos vocês que um dia foram abusados, amigos leitores] Deixo um texto para reflexão:
“Jesus, nosso Advogado, está familiarizado com todas as circunstâncias que nos envolvem, e trata conosco de acordo com a luz que temos e as situações em que fomos colocados [há os que foram abusados ou tiveram uma criação difícil] Alguns possuem melhor constituição [genética, física e psíquica] que outros. Enquanto uns estão continuamente atormentados, aflitos e em dificuldades por causa de seus desditosos traços de caráter, tendo de guerrear contra inimigos internos e a corrupção de sua natureza, outros não têm nem a metade dessa batalha”.[iii]
Percebeu? Deus entende suas limitações e lhe valoriza muito pelo que pode oferecer-Lhe, mesmo que seja limitado quando comparado a pessoas que nunca foram abusadas e têm melhores condições psicológicas! Creio nisso e viva em paz! Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1)

Fonte: http://leandroquadros.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pages