Passaporte vencido, medalha no cofre e missa: a Copa maluca de Ricardinho - Se Liga na Informação





Passaporte vencido, medalha no cofre e missa: a Copa maluca de Ricardinho

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Hoje técnico do Paraná, ex-meia relembra como foi sua saga para substituir o cortado Emerson no Mundial de 2002, no Japão e na Coreia do Sul


De folga do Corinthians e passando uns dias em sua casa em Curitiba, Ricardinho viu a vitória de Senegal sobre a França, por 1 a 0, na abertura da Copa do Mundo de 2002, e foi para igreja com o pai e o sogro. Na saída da missa, o aceno dos frentistas no posto de gasolina soou estranho. O atual técnico do Paraná ainda não sabia, mas havia sido convocado para o Mundial no lugar de Emerson, cortado por lesão no ombro.
Na verdade, Ricardinho saiu de casa pela manhã sabendo do possível corte de Emerson. Mas como ainda não era certo, deixou qualquer expectativa de lado. Só que sua esposa, Juliana, parecia pressentir que o marido seria chamado para participar do grupo pentacampeão do mundo.
- Minha esposa ainda brincou na saída de casa para eu deixar o celular ligado, porque se houvesse o corte iriam me chamar. Eu falei: ‘Para, você está sonhando’ – contou o ex-jogador ao GLOBOESPORTE.COM.
Ricardinho, Seleção Brasileira, Copa do Mundo 2002 (Foto: Agência Getty Images)Ricardinho durante o jogo contra a Costa Rica, na primeira fase da Copa (Foto: Agência Getty Images)
A mulher de Ricardinho foi quem recebeu a notícia em primeira mão. Parreira, então técnico do Corinthians, havia ligado avisando que a CBF entraria em contato.
- Ela disse que o Parreira tinha ligado primeiro, porque ele era meu treinador no Corinthians na época. Em seguida ligou o seu Américo (Faria, supervisor da CBF na ocasião) e quando cheguei falei com o Felipão por telefone – lembrou Ricardinho.
Passaporte vencido e medalha no cofre
De Curitiba, Ricardinho foi para São Paulo, onde faria as malas e embarcaria para o Japão. Ao pegar o passaporte em casa, porém, uma preocupação: o documento vencia no mesmo dia da viagem. Rapidamente, o meia avisou à CBF e foi montado um esquema especial para que a renovação acontecesse em solo japonês.
- Renovei quando cheguei ao Japão. Ao desembarcar, fui recebido pelo cônsul brasileiro, fui ao consulado e renovei o passaporte. Saí num domingo à noite e cheguei na terça-feira à tarde à Coreia do Sul. Tive de fazer isso antes de ir para a Coreia.
Após esse susto, nada mais natural do que Ricardinho lembrar daquela Copa do Mundo com muito carinho. Tanto que a medalha conquistada fica guardada a sete chaves dentro de um cofre. Só sai de lá para que pessoas muito próximas a vejam. Fazer cópia até estava nos planos. Mas o medo de perdê-la é maior.
- Desde quando a medalha veio está no cofre. Esporadicamente sai para as pessoas mais chegadas verem. Só existem 23 dessa, mais as da comissão. Eu até pensei em fazer uma cópia, mas como vou confiar que a pessoa vai me devolver a original? E se ele ficar com a original e me devolver a cópia?.
Poucos dias antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo, contra a Turquia, Emerson foi participar de um rachão com os demais jogadores e resolveu se arriscar no gol. Na brincadeira, ele machucou o ombro ao fazer uma defesa. Depois de ser avaliado pela comissão médica, veio o triste corte.
- Todo jogador de futebol sempre quer chegar à Seleção, disputar a Copa. Eu quase disputei três mundiais seguidos. Fiquei triste, abalado... Tive que viver essa realidade. Ajudou a criar anticorpos para o restante da carreira e para passar por outros momentos difíceis que vivi – disse o volante, que esteve em 1998 e 2006.
O substituto Ricardinho, claro, não ficou totalmente feliz em ir para a Copa sabendo que outro jogador tinha sido cortado. Mas para ele, Emerson também é campeão.
- Apesar de não ter participado, ele conquistou junto. Esteve nos amistosos, nas Eliminatórias, teve participação extremamente importante, positiva, temos de citar isso. Foram 24 campeões do mundo – falou Ricardinho.
Mas Emerson discorda. Ele não se considera campeão do mundo.
- Até o meu corte eu era o capitão da Seleção. Mas não fiz parte do time, não entrei na lista final inscrita para o Mundial. Não me sinto campeão mundial.
Vampeta, o profeta
Vampeta e Rincon (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Vampeta disse que Ricardinho seria chamado
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Antes da Copa do Mundo de 2002, o Corinthians de Ricardinho e Vampeta, que também foi pentacampeão, foi campeão da Copa do Brasil contra o Brasiliense. Logo depois do título, o colega do meia, que viajaria dias depois para Ásia, avisou, em tom profético, que se algo acontecesse, ele é que seria chamado. E assim foi.
- Depois do jantar, na hora de irmos descansar, o Vampeta falou para mim: ‘Ô, veterano, daqui a pouco nos encontramos lá. Se acontecer qualquer coisa, o primeiro cara que vão chamar é você, pode ter certeza absoluta’ – lembrou Ricardinho.
Incrédulo, o agora técnico do Paraná só foi lembrar da profecia de Vampeta quando estava no avião de Curitiba para São Paulo.
- Impressionante, parece mentira. Não fiquei com isso na cabeça em nenhum momento, ele falou daquele jeito brincalhão. E eu falei: ‘Boa sorte, faça uma boa Copa e ganhe a Copa do Mundo’. Só fui lembrar disso quando estava no avião de Curitiba para São Paulo. Que coisa...
Na comemoração do título, após a vitória por 2 a 0 sobre a Alemanha, Ricardinho fez uma homenagem a Emerson, lembrando do volante com dizeres na camisa.

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