A festa vai ser com um desfile militar na região do Parque do Ibirapuera. A Revolução de 1932 foi uma pequena guerra em que o estado de São Paulo se revoltou contra a ditadura de Getúlio Vargas. Entenda a história.
São Paulo comemora nesta segunda-feira (9) os 80 nos da Revolução de 1932. A festa vai ser com um desfile militar na região do Parque do Ibirapuera.
A Revolução de 1932 foi uma pequena guerra em que o estado de São Paulo se revoltou contra a ditadura de Getúlio Vargas. A batalha envolveu homens, mulheres e crianças e até hoje causa polêmica.
Há 80 anos, milhares de jovens marcharam para uma guerra dentro do Brasil. Uma luta que durou três meses e matou mais brasileiros do que a Segunda Guerra Mundial. Hoje, os futuros oficiais da Polícia Militar paulista homenageiam a coragem dos antepassados, marchando com os uniformes usados nos combates.
“É uma época de Getúlio Vargas, que derrubou a constituição e governava segundo seus interesses. O movimento nasceu dos quartéis, nasceu ai frente aos partidos políticos, congregou civis, estudantes e formamos aí uma grande força de combate”, diz a professora de história da PM Sandra Helena Linhares.
O conflito explodiu com a morte de quatro manifestantes em um protesto no centro de São Paulo. Em poucas horas, a força pública recebeu reforço de mais de 10 mil voluntários. A multidão queria democracia e eleições livres. Mas a revolução interessava à elite descontente com a política e a economia de Getúlio Vargas.
“Vivíamos uma ditadura. Congresso fechado, assembleias e câmaras de vereadores fechadas, governadores nomeados pelo governo central, prefeitos nomeados pelos interventores, em suma, você não tinha um poder executivo democrático, você tinha um legislativo fechado em todas as esferas e um judiciário controlado pelo executivo”, explica o historiador Marco Antonio Villa.
Dois anos antes, boa parte dos paulistas apoiara Getúlio Vargas. Na eleição de 1930, o gaúcho não aceitou a derrota para Júlio Prestes. Deu um golpe - a "Revolução de 30" - e impediu a posse do rival. Getúlio suspendeu a constituição e formou um governo provisório, prometendo democracia e eleições limpas.
Dois anos depois, o governo provisório continuava no poder e nada de nova constituição. São Paulo decidiu derrubar Getúlio Vargas. Buscou ajuda de mineiros e gaúchos, mas acabou sozinho.
Aos 96 anos, Paulo Camargo lembra bem do clima que o arrastou para a frente de combate.
“Todos estavam entusiasmados. Homens, mulheres e crianças. As crianças faziam batalhões fardados para incentivar guerra”, lembra o ex-combatente Paulo Camargo.
“Todos estavam entusiasmados. Homens, mulheres e crianças. As crianças faziam batalhões fardados para incentivar guerra”, lembra o ex-combatente Paulo Camargo.
O Vale do Paraíba é o lugar onde os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro se encontram. Por isso mesmo, ele foi um dos locais onde aconteceram as piores batalhas da revolução de 32. Esse foi um dos cenários dentro do município de Cruzeiro, do lado paulista.
Tudo pelo controle dos trilhos, uma conexão ferroviária importantíssima, estratégica, porque do outro lado do túnel, já é o estado de Minas Gerais. O trem era a única ligação. Os paulistas avançaram até o lado mineiro. Locomotivas bloquearam o túnel dos dois lados.
“Para que o paulista não tomasse um tiro vindo do próprio companheiro, ele gritava ‘tapioca’, o outro gritava ‘tatu’, e ele sabia que não era para dar tiro”, explica o diretor do Museu de Cruzeiro, Carlos Felipe do Nascimento.
Sem poder avançar, os dois lados trocaram fogo durante semanas. O pesquisador registra mais de 200 mortes. Deixamos para trás o túnel, de volta a São Paulo, com certeza de que passou por um dos cenários da nossa historia recente. De uma história que a gente espera que nunca se repita.
Na visão da historiadora Ilka Cohen, o confronto podia ter sido evitado. Para ela, a população foi usada pelos poderosos.
“Há uma certa manipulação da elite no sentido de que o interesse maior era dela, era da participação, da manutenção do poder, dos seus privilégios, então a elite de fato, tem um papel fundamental na conformação desse clima de apoio revolucionário”, explica a historiadora da USP.
“Eu me alinho aos que defendem que foi um movimento democrático, algo pouco comum dentro da historia brasileira em defesa das eleições livres, com voto secreto, com voto da mulher pela primeira vez inclusive e da realização de uma assembleia constituinte”, analisa o historiador Marco Antônio Villa.
Os avós do publicitário Ricardo Della lutaram por São Paulo. Para ele, os itens que ele coleciona provam a mobilização geral dos paulistas.
“É uma coisa que você não vê hoje. Você vê pequenas mobilizações por causas das mais aleatórias possíveis e naquela época as pessoas realmente se importavam”, diz Ricardo Della Rosa.
Mas, a memória de 1932 não é cultivada pelos paulistas. O próprio mausoléu ao soldado constitucionalista de 1932 sofre com problemas de manutenção.
Para o representante dos veteranos, lembrar o 1932 é dar valor a quem lutou pela democracia.
“Lutaram pelo Brasil. Por isso que São Paulo conserva a imagem da bandeira do Brasil, no seu próprio pavilhão. Então 'para o Brazilia Fiat Eximia', quer dizer, pelo Brasil se façam grandes coisas, naquela época, hoje e sempre, destaca o Coronel Mário Fonseca.
Fonte: Bom dia Brasil
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