O escândalo do mensalão não foi um caso qualquer de corrupção. Foi uma grave tentativa de cooptação do Legislativo pelo Executivo, por meio de um esquema abastecido com recursos públicos. Por isso, constituiu uma ameaça à própria democracia e à independência entre os poderes. Mas com o seu julgamento, também estará em jogo a trajetória de um nome que não consta na lista dos 38 réus: Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar dos indícios de que sabia da existência do mensalão, o ex-presidente foi poupado da acusação do Ministério Público Federal. Independentemente disso, uma condenação de José Dirceu e seus comparsas seria uma grave mancha no currículo que Lula tenta construir – o do trabalhador de origem humilde que ascendeu ao poder e modernizou a política brasileira.
Parte dessa construção já não resiste a um exame cuidadoso, embora subsista no imaginário popular. O baque da condenação do mensalão pode prejudicar uma das maiores preocupações de Lula: a forma como os historiadores verão seu governo no futuro
Desde o início do escândalo, em 2005, o comportamento de Lula foi pragmático. Quando surgiram as denúncias, ele jurou que não havia sido avisado sobre o mensalão e que fora traído. Com o agravamento da situação política, chegou a pedir desculpas pelos “erros” do governo e do PT. Com o tempo, sobreviveu à turbulência, ganhou popularidade e passou a sentir-se à vontade para negar os fatos e dizer que o caso foi inventado por forças que pretendiam apeá-lo do governo.
O Lula de 2005 era diferente daquele que hoje brada pela impunidade. “Não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas”, disse, contrito, em meio ao escândalo. “O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas. Porque o povo brasileiro (…) não pode, em momento algum, estar satisfeito com a situação que o nosso país está vivendo.”
Em novembro daquele ano, o então presidente já estava confortável para negar a história. “Esse negócio de mensalão me cheira a um pouco de folclore dentro do Congresso Nacional”, declarou. Em maio deste ano, a ousadia cresceu: “Na verdade, era um momento em que tentaram dar um golpe neste país”, afirmou.
Mancha - Para o cientista político Ricardo Caldas: “Não se pode separar Lula de José Dirceu, assim como não se podia separar PC Farias de Fernando Collor”, compara. “Se o mensalão for comprovado pelo STF, a tendência é a imagem de Lula sair prejudicada.”
Fonte: Veja
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