Por Djesniel Krause
RESUMO: No início do século XXI os estudiosos não nutrem mais dúvidas acerca da existência histórica de Jesus enquanto ser humano, entretanto, é comum no meio acadêmico as pessoas terem uma visão equivocada de Jesus, considerando-o não mais do que um mestre da moral, um líder político que infelizmente acabou executado pelas autoridades. Faze-se necessário a demonstração de que não apenas sua existência é histórica mas também sua morte e ressurreição, o que confirma que suas alegações de ser o Filho de Deus estavam plenamente corretas.
A primeira questão a ser respondida para dar início a esta discussão é: Jesus realmente existiu enquanto figura histórica?
Não há dúvidas a respeito da resposta, mesmo estudiosos ateus ou agnósticos que levam a sério o trabalho acadêmico se vêem forçados pelo peso da evidência, a reconhecer a existência histórica da figura de Jesus.
Um conhecido exemplo é o agnóstico Bart Ehrman que afirma categoricamente que “Jesus existiu, e as pessoas que negam abertamente esse fato o fazem não porque analisaram as evidências com o olhar desapaixonado de um historiador, mas porque essa negação está a serviço de alguma causa própria” (EHRMAN, 2014, p. 14).
Ocorre, entretanto, que a despeito da ampla aceitação da historicidade da figura humana de Jesus, diversos estudiosos brasileiros mais populares tais como Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé e até mesmo Mário Sergio Cortella[1] parecem endossar a ideia de que embora Jesus tenha de fato existido, ele nem era Deus ou Filho de Deus, não tinha parte com nada transcendente ou metafísico e, seguindo uma lógica naturalista, também não ressuscitou dos mortos.
Jesus, assim, limita-se a ser, utilizando as palavras de C.S. Lewis, apenas “um grande mestre da moral” (LEWIS, 2009, p. 69).
Conforme a subsequente crítica de Lewis, “essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral” (LEWIS, 2009, p. 69), Lewis refere-se às alegações de Jesus onde ele se identifica como Deus, ele prossegue, “você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus” (LEWIS, 2009, p. 70) mas de nenhuma maneira, Jesus seria apenas um mestre da moral.
Se Jesus houvesse sido apenas mais um líder político, ou mestre da moral, que acabou executado por crucificação sob poder de Pôncio Pilatos, sem sobrenaturalismo, sem milagres e sem ressurreição, ele teria sido esquecido pela história, assim como outros pretendentes ao título de messias também o foram.
Porém Jesus não foi como os outros, J.P. Moreland (MORELAND. In: STROBEL, 2001, p. 329-330) elenca ao menos cinco estruturas sociais que os primeiros cristãos (a maioria de origem judaica) adotaram, são elas:
- – Deixaram de fazer sacrifícios;
- – Deixaram de dar ênfase na obediência a Lei de Moisés para salvação;
- – Trocam o sábado pelo domingo como dia de descanso;
- – Eram monoteístas, no entanto adoravam a Jesus como Deus, e também passaram a crer no Espírito Santo;
- – Passaram a ensinar que o Messias sofreu e morreu, enquanto as expectativas eram de um Messias político que libertaria Israel de Roma.
A respeito da última estrutura social mencionada por Moreland, o sofrimento e morte do Messias, é pertinente o comentário de Ehrman:
O grande obstáculo que os cristãos encontraram ao tentar converter judeus foi precisamente sua resistência quanto à execução de Jesus. Eles não inventariam essa parte. Tiveram de aceitar o fato e criar uma teologia especial e inédita para justificá-lo. Assim, o que criaram não foi uma pessoa chamada Jesus, mas a ideia de um messias sofredor. (EHRMAN, 2014, p. 171).
Interessante observar que Ehrman aceita a crucificação de Jesus uma vez que tal acontecimento não era aguardado por nenhuma esperança messiânica, porém não aceita também a sua ressurreição com base no mesmo argumento.
Conforme Craig Evans, “não havia uma expectativa judaica sobre a morte e ressurreição do Messias” (EVANS, 2009, p. 43) e além do mais, a ressurreição de Jesus também foi um grande obstáculo para a tentativa dos cristãos de convencer tanto judeus quanto gentios, isto pode ser verificado no episódio em que Paulo dialoga com filósofos no Areópago de Atenas.
Assim, a recusa de Ehrman e outros estudiosos em aceitar a ressurreição de Jesus apenas revelam seu preconceito antisobrenaturalista, a rejeição deste evento se dá por pressupostos filosóficos e não pela análise comprometida da evidência histórica disponível.
A ressurreição corpórea de Jesus é a melhor hipótese explanatória para o conjunto de fatos aceitos universalmente pelos historiadores, tais como o fato de o túmulo de Jesus ser encontrado vazio no domingo após sua crucificação, por um grupo de seguidoras suas, o fato de diversos indivíduos alegarem terem tido experiências com o Cristo ressurreto a despeito de toda a predisposição para o contrário, e o fato do início do Cristianismo na cidade de Jerusalém pouco tempo após a morte de Jesus, os primeiros discípulos de Jesus passaram a acreditar com sinceridade em sua ressurreição a ponto de sofrerem perseguição e martírio pela sua crença.
Conforme o comentário de N.T. Wright em sua monumental obra A ressurreição do Filho de Deus, tida por Timothy Keller como “a última palavra em academicismo histórico sobre a ressurreição de Jesus” (KELLER, 2015, p. 231):
Se nos deparássemos com algum outro problema histórico que nos trouxesse a um par de conclusões seguras e inter-relacionadas, e se estivéssemos buscado [sic] por um fato ou evento que explicasse tão completa e satisfatoriamente como a ressurreição corpórea de Jesus explica o túmulo vazio e os ‘encontros’, então a aceitaríamos, sem um segundo de hesitação (WRIGHT, 2013, p. 976).
Assim, para usar as palavras de William Lane Craig, estamos “justificados em inferir a ressurreição de Jesus como a explicação mais provável dos dados” (CRAIG, 2012, p. 345).
A partir de uma inferência a melhor explicação com base no fato da existência histórica de Jesus, sua morte por crucificação, seu túmulo vazio, as aparições após sua morte e o início do cristianismo que se baseou na alegação da ressurreição de Cristo, conclui-se que Jesus de fato ressuscitou dos mortos e é, portanto, mais do que um mestre da moral, ele é quem alegou ser: o Filho de Deus!
Nota:
[1] Não se pretende no presente texto discutir sobre suas credenciais acadêmicas nem seus méritos intelectuais, os autores foram tão somente mencionados dada sua popularidade.
Referências
CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
EHRMAN, Bart D. Jesus existiu ou não? Rio de Janeiro: Agir, 2014.
EVANS, Craig. O Jesus fabricado: como os acadêmicos atuais distorcem o evangelho. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
KELLER, Timothy. A fé na era do ceticismo: como a razão explica Deus. São Paulo: Vida Nova, 2015.
LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. 3. ed. São Paulo: Editora WMV Martins Fontes, 2009.
STROBEL, Lee. Em defesa de Cristo: Jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 2001.
WHRIGHT, N.T. A ressurreição do filho de Deus. Santo André e São Paulo: Academia Cristã e Paulus, 2013.
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