VIDA CRISTÃ - Abraão: um “antigo contemporâneo”, mas necessário, modelo de pai - Se Liga na Informação





VIDA CRISTÃ - Abraão: um “antigo contemporâneo”, mas necessário, modelo de pai

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Por Eliandro da Costa Cordeiro
Ser pai é trilhar o caminho da dor junto ao filho e considerar todo o percurso uma adoração (Gn 22:1-19)
A base de qualquer empreendimento é a sua estrutura. Não importa a esfera, se social, emocional, econômica, intelectiva; é a profundidade das “estacas” na “rocha do real” que lhe dará a altura. Por mais imponente e belo que seja aquilo que se edificou, inseguro e feio se mostrará se não seguir a norma de sua estrutura; isto é, aquilo que ninguém vê: as suas bases (Lc 14:28-30).
Tal metáfora aplica-se à realidade de nossos lares na sociedade atual. Erguem-se idealistas, com recursos vários, mas com estrutura mínima de valores (Dt 6:7; Sl 127;128; Pv 14:1; 31:1ss; 2Tm 1:5). Os puritanos tinham um provérbio propício àquilo que lastra a vida do homem: “O que tu fazes diz tão alto que não posso ouvir o que dizes”.
A Bíblia nunca economizou a verdade acerca de qualquer uma de suas personagens. Todas as virtudes e vícios dos homens de Deus nela registados foram expostos. É por isso que podem servir-nos como exemplos em todos os aspectos (2Tm 3:16). E é interessante que, mesmo os piores vícios, em se tratando do que a Bíblia nos revela, se tornarão um importante instrumento forjador de virtudes (Acã, por exemplo [Js 7:1ss]) para a vida cristã.
O exemplo de fé
Ora, quem não se encanta com a vida de Abraão? Quem nunca observou o seu paradoxo de fé que, a um só tempo, crê nas promessas de Deus e “mete os pés pelas mãos” à procura de um filho (Gn 15:1-4; At 7:5)? Mormente, esse símbolo para a fé cristã mostra-nos que a verdadeira relação com Deus não pode ser privada, mas se estende grassando pela família e sociedade (Gn 12:1-3; 22:17-18; Rm 4:12,16,18; 9:8; Gl 3:7,8,9,14,29).
Abraão tornou-se exemplo de fé por meio de uma vida de constantes desafios de caminhar com Deus em meio a várias circunstâncias. Uma delas é quando o Senhor põe o velho à prova utilizando-se da própria promessa feita a ele: o filho (Gn 15;17 e 22). Como Deus pode pedir de volta o que deu àquele que demonstrou tão grande fé?
No caminho ao monte Moriá, tem-se um pai, não menos amoroso do que fiel a Deus, que trilha com o seu filho o caminho da fé (Gn 22:3,4,12; Hb 11:19,20). Esse caminho é paradoxal, pois estreita as realidades mais diversas e os sentimentos mais nobres: amor a pessoas distintas em ambientes únicos. Ou seja, Abraão provará que ama o filho entregando-o a Deus e, consequentemente, amará a Deus se entregar-lhe o filho.
O exemplo de pai
Se Abraão nos foi um grande exemplo de fé, é-nos, também, um exemplo de pai. No caminho da provação, até que chegasse ao monte, não menosprezou o filho. Este pergunta e Abraão retribui atentamente, com uma resposta repleta de cuidado. Há um olhar que se inclina às necessidades e dúvidas do filho (Gn 22:5,7,8). Por quê? Ora, muitos de nós temos uma espiritualidade cristã capaz de seguir solitária, sem o cônjuge e/ou os filhos, num trajeto “eu e Deus”. Na maioria das vezes, nossos filhos e cônjuges não têm a chance de participar, descobrir e viver as mesmas experiências conosco no caminho da fé. Todavia, não é o que se vê nesse “cavaleiro da fé” (cf. Kierkegaard).
O que se vê no caso da ordem divina a Abraão, acerca de Isaque, soa diferente. Não é apenas uma prova entre Deus e Abraão. Há um garoto que participa dessa comunhão e que parecia não entender tudo o que acontecia. Embora ignorante quanto à jornada da fé paterna, fora convidado a trilhá-la com o pai. Conquanto Isaque fosse o “objeto” da fé entre Deus e o homem, Deus inclui nesse relacionamento o filho de Abraão. O rapaz não precisa sofrer as mesmas dores paternas, mas bem pode experimentar as respostas divinas a elas (Gn 22:8).
Naquele momento, a prova pela qual passa Abraão é solitária, pois é o filho a quem Deus quer. Contudo, o filho não pode ser apresentado como um objeto ou animal. Afinal, é o fruto do amor de Abraão, bem como da aliança entre este e o próprio Deus.
O filho na comunhão com Deus
Como o garoto é envolvido na vida de comunhão com Deus? De modo sábio, Abraão engendra Isaque ao relacionamento com o Deus Provedor. A fé que o pai revela ao filho, no caminho, deixa garantido que Deus não pede nada que Ele mesmo não possa dar (Gn 22:5,8). E, nesse caso, o que Deus pede é o filho. O que há de colocar em seu lugar senão o próprio Deus (Gn 15:1, Sl 16:5; 73:26)?
Então, a prova não envolve apenas Abraão, mas o próprio Isaque. Este precisa aprender a confiar em Deus. Aprenderá observando o pai. É essa participação nas lutas e provações uma oportunidade de crescimento e fortalecimento do vínculo paterno. O pai estreita um relacionamento com Deus ainda maior, pois aquilo que é oferecido em sacrifício não é Isaque, mas o próprio Abraão está deitado no lenho (cf. Jo 3:16). Não é isso que um pai deve sentir pelo filho? Não é essa intercessão natural?
Ora, o modo como os dois, Abraão e Isaque, caminham em direção ao monte revela a cumplicidade existente entre pai e filho. O filho caminha confiando nas palavras do pai: “Iremos adorar e voltaremos”. E o pai ensinando-o a confiar em Deus: “Deus proverá”. Há um modelo que se externa de Abraão nesse caminho de dor e provação que nos serve de auxílio na formação do caráter (espírito) e educação de nossos filhos.
Deus ou o filho?
Esse modelo aponta para uma espiritualidade verdadeira, capaz de viver intensamente os laços afetivos e teológicos numa única realidade.
Observemos o que diz o apóstolo Paulo acerca de uma vida cheia do Espírito e descobriremos que ela é a grande responsável por uma vida harmoniosa dentro do lar, e não o contrário. Quanto mais cheio do Espírito o crente estiver, mais se devotará ao lar (Ef 5:18; 6:1-4).
O que se quer dizer é que a provação à qual Deus submete Abraão não o distancia dos seus afetos convenientes ao filho. Saber que Deus é a prioridade de sua vida não lhe enseja a oportunidade de deixar o garoto abandonado. E essa provação, além de fruto de relação teológica, é promovedora de enfeixamento de sentimentos familiares. A fé em Deus é um caminho que a família pode trilhar junta, mesmo sob pena de dores e angústias. O que resulta no final desse caminho nunca será a solidão ou a separação; antes, o cumprimento de todas as promessas de Deus à família (Gn 22:16ss).
Atentemos para o fato de que Deus indica saber as afeições humanas que Abraão dedica ao filho (“[…] o teu único filho, Isaque, a quem amas […]”) e espera vê-las dedicadas a Ele. O filósofo dinamarquês Kierkegaard chamou esse relacionamento de “angústia amigável”, pois, embora o amor que se devote a um filho deva ser inferior ao dedicado a Deus, é ainda uma das mais belas expressões do ser entre os homens (Is 49:15). Portanto, amor e temor, pai e filho, provação e fé, adoração e coragem, são experiências possíveis de serem compartilhadas em família (Js 24:15; Lc 1:5-7; 1Tm3:4,5,12; 5:4,8).
O pai está tão envolvido com Deus quanto está com o filho. Não é por isso mesmo que Deus pediu a Isaque em sacrifício? Esse pedido expressa desapreço ao moço ou um valor o qual se deve aquilatar? Abraão não é provado por amar Isaque. Não há pecado em amar o filho; pecado é não o amar na medida devida. A medida do amor ao próximo é o resultante natural do amor que se destina a Deus. É Deus o pêndulo do amor, pois Ele é o próprio amor (1Jo 4:8). E é assim que Isaque há de ser amado. Esse é o amor mais seguro que se pode receber (Mc 12:30-33).
Relacionamento entre pais e filhos
Um “amor secundário”, como resultante de afeto que se destinou a Deus primeiramente, alcançará o coração do próximo com maior poder do que se se devotasse antes de tudo ao homem e depois a Deus. Agostinho já dissera: “Ame a Deus e faça o que quiseres”. Ora, quem ama não faz o que quer; antes “não procura os seus interesses”, mas o do amado (1Co 13:5). E é precisamente nesse ponto em que se quer chamar a atenção: essa ideia de afetos entre a devoção de Abraão a Deus e a sua dedicação ao filho propicia-nos dois princípios que podem ser aplicados ao relacionamento pais e filhos. São eles:
(1) Abraão nos ensina que o pai não pode exigir do filho uma obediência que ele mesmo não tenha a Deus (1-3);
(2) na vida de devoção de um pai a Deus, deve haver janelas por onde o filho possa se comunicar com o pai e, até mesmo, por meio desta, com Deus (5-19).
Vejamos o primeiro princípio:
O pai não pode exigir uma obediência do filho que ele mesmo não tenha a Deus (1-3)
Abraão torna-se pai depois de longo período de espera. Cerca de vinte e dois anos esperou pelo nascimento do filho. No capítulo vinte e dois de Gênesis, Deus irrompe os anos de comunhão que o pai tem com Isaque e prova a alma de Abraão.


Deus chama Abraão e este prontamente responde: “Eis-me aqui, Senhor!” Apesar de erros em sua vida, Abraão demonstra sobrepujá-los com a obediência a Deus. Tal obediência manifesta-se em dois pontos:
1 – Existir aqui, mas viver lá, com Deus (2Cr 20:7; Is.41:8; Tg 2:23; cf. Cl 3:2; Hb 11:8ss).
Deus o chama uma vez pelo nome e Abraão prontamente responde a Deus: “Eis-me aqui”.
O autor de Hebreus aponta no capítulo 11 que a fé demonstrada por Abraão foi uma fé que se moveu por obediência. É o sentido que podemos depreender do termo “pistis”, ou seja, “pela obediência, Abraão partiu para uma terra que não conhecia.”
– O amor ao filho é submisso ao amor a Deus: “[…] o teu filho a quem amas […].”
O texto deixa claro que o que Deus pedia a Abraão ia além de “saltar no escuro”. Envolvia consideração afetiva. Na verdade, Deus não pedia Isaque em sacrifício, mas o próprio Abraão. Significaria menos se o próprio Abraão se oferecesse a Deus em sacrifício. Um pai morre por um filho, mas não deseja viver para ver um filho morrer. Isso quer acentuar que Deus está envolvido no afeto pai e filho e não há de separá-los, mas uni-los em dimensões proporcionais a um amor verdadeiro (Ef 3:17-20). Lembra-nos Agostinho que “Deus é mais íntimo a mim do que eu mesmo”. Assim, o próprio Senhor está envolvido com os laços afetivos que Abraão tem com Isaque.
Paradoxalmente, pedi-lo em sacrifício e ser atendido seria demonstração de amor, antes de tudo a Deus e, depois, a maior prova de amor que um pai pode dar a um filho. E isso é assim, pois a maior herança que um pai pode legar ao filho é o seu amor a Deus manifesto em rastro, não de vergonha, força ou dinheiro, mas obediência (Dt 6:2; Ef 5:22-33; 6:1ss; 2Tm 1:5; 3:14-17; Tt.1:6-9; 2:1ss). O amor a Deus prova a atitude, esquadrinha o caráter de quem diz ter fé Nele (Dt 11:13; Jo 14:15,21; 15:10; Tg.1:19ss).
Perguntemos com sinceridade: estaria a minha fé em Deus compatível com o meu amor por Ele? Este amor é manifesto como um legado, no qual o meu filho desejará mais o caráter, a minha fé, do que o meu dinheiro?  Deve ser a minha fidelidade a Deus aquilo que garante ao meu filho que deve transmitir-lhe a segurança de meu amor (Pv.8:10).
O segundo princípio a se considerar é o fato de que, na provação de Abraão: 
O pai dá a chance de o seu filho andar ao seu lado (6,8)
Observemos que uma das maiores queixas que nos são apresentadas como resultante do fracasso no relacionamento entre pai e filho é a falta de companheirismo entre eles (1Sm 14:23-33).
Temos a tendência de dicotomizar a espiritualidade cristã da educação dos filhos e da verdade acerca de nós mesmos. Queremos que os filhos aprendam com os nossos bons exemplos e não com os nossos vícios e manias.
Todavia, aprender dessa forma não é didático nem verdadeiro. Devemos ser capazes de ensinar, quer com bons ou maus exemplos, com as virtudes e os vícios (Pv 1:5; 9:9; 19:20), pois é nisto que consiste a vocação paterna para o ensino (Pv 22:6). Que função deve ter o ensino se não for capaz de exercitar o juízo e o discernimento, bem como a autonomia da criança? Que conhecimento se adquire se não for aquele que lança o indivíduo à frente, corajoso para responder por sua própria decisão (Pv 1:29; 2Tm.3:7)?
Isaque é chamado para andar ao lado do pai. Esse pai não é exemplo de perfeição, mas o é de homem que procura realizar a vontade de Deus (Fp 3:12-16). Deus está como paradigma da perfeição tanto para o pai como para o filho. O pai não O segue por ser perfeito, mas para o ser e, dessa mesma forma (imperfeito), tem autoridade para apontar ao filho o caminho da verdade.
Não é a perfeição que torna o pai um modelo para o filho. Revelar-se sempre perfeito não é a verdade humana, mas ilusão e engessamento do processo didático na construção do caráter de um filho acerca da realidade. É necessário aprender a lidar com a imperfeição e as provações, pois ambas são elementos pedagógicos de Deus no amadurecimento do crente (Sl 119:96; Tg 1:1-4; Hb 6:1; 12:4-13; 1Pe 1:6-9).
Ora, revelar-se obediente não é revelar-se perfeito. A obediência é o indicativo de uma busca constante pela perfeição, uma vez que ter de obedecer já demonstra, per se, a incapacidade de ser padrão em si mesmo (Mt 5:48; 1Co 13:10; 2Tm.3:17; Tg 3:2). Logo, a perfeição é um paradigma externo ao homem; isto é: Deus (Mc 10:18). É isso que a provação a qual Abraão enfrenta convida Isaque a aprender no caminho. A casa da devocional de Abraão tem janelas que convidam Isaque a espiar por elas. A provação é isto, janelas que se abrem e convidam a família a participar da nossa devoção para com Deus (Gn 24:1214,27,48; cf. 26:1ss). Eis o convite da provação:
1 – Caminhar juntos o caminho da obediência a Deus
Esse caminho não pode ser apenas dito, nem se deve esperar que somente o pai o trilhe no lar. A ordem de Deus a Abraão envolvia também o seu filho. Isso nos ensina que, no lar, na vida cristã, há comprometimento tanto dos pais como dos filhos com o culto a Deus.
O que Isaque sabe sobre a provação do pai? Nada; mas experimenta dela. Ele ainda não a sabe, mas nem por isso é excluído das lutas pelas quais Abraão passa. Não é assim conosco também? Muitas vezes, somos provados por Deus e não há como evitar que a família sofra com isso. Por que não aproveitar e ensinar aos filhos sobre o valor da fé em Deus? Por que não aprenderem a importância da obediência a Deus?
Inerentemente, Isaque está envolvido com a provação de Abraão. Deus não quer somente o seu filho em holocausto; quer que ambos juntos provem de seu cuidado e provisão. Os filhos apenas reproduzem o que os seus pais são ou falam. É Abraão quem deve conduzir o filho durante a provação e ensinar-lhe o valor da obediência a Deus (Sl 128:1ss). Cabe, pois, aos pais o ensino das verdades eternas aos filhos. Lloyd-Jones nos lembra que o termo “criar” utilizado por Paulo em Efésios 6:1 significa: “edificar e educar os filhos para a maturidade”, e que eles precisam “ser “edificados”, “criados”, “educados”, “preparados”, não somente para a vida neste mundo, e sim especialmente para o estabelecimento de uma correta relação das suas almas com Deus” (Vida no Espírito, no Casamento, no lar e no trabalho, p. 227).
2 – Caminham juntos o caminho da fé
Foram três dias em direção ao monte. Abraão sabe o que fazer, porém Isaque não sabe o que oferecerá a Deus, mas sabe que vai com o pai adorar. Temos um filho que anda com o pai num caminho de provação, mas que, embora não saiba o que está acontecendo, o pai não deixa de destilar-lhe fé: “iremos, mas voltaremos […]; Deus proverá, meu filho […]”.
Observe como Abraão envolve o filho na provação sem que lhe sobrecarregue de preocupações desnecessárias. É inevitável que os filhos, muitas vezes, participem de provações com os pais.
Por isso, deve ver no pai, desde cedo, um exemplo de fé. Um pai que não pode garantir ao filho que o Deus a quem serve é capaz de suprir a sua necessidade enfrentará problemas. Se os filhos ainda não possuem maturidade suficiente para entender o agir de Deus, a terão por experiências adquiridas com os pais em confiar em Deus sempre, uma vez que os próprios pais experimentaram de Deus a solução.
Uma vida com Deus que me distancia da família, da comunhão com os filhos, não pode ser verdadeira. Abraão demonstra ser aquele que não só gere a casa, mas também anda ao lado do filho como aquele amigo presente. “E caminharam ambos juntos”, diz o texto bíblico. O pai tem a obrigação de estender aos filhos o seu conhecimento e relacionamento com Deus. Na verdade, a sua fé deve ser um convite aos filhos para um caminhar com Deus (2Cr 20:32; 22:3; 34:2; 1Rs 3:14; 22:43; 2Rs 8:27).
É certo que o companheirismo oferece o risco de se ser exemplo; isto é, o filho pode se decepcionar com o pai. Isaque tem de saber que na vida há momentos difíceis, em que a fé não nos promete dar nada, mas só parece pedir (Hb 11:33-38). Mas Abraão não está sendo provado para não decepcionar o filho, senão para demonstrar obediência a Deus. Quando Abraão anda ao lado do filho estabelece que o padrão de perfeição está fora dele: em Deus. É por isso que a vida com Deus está longe de ser uma experiência que não se pode viver em família.
Os pais não são referência de perfeição, mas aqueles que sabem apontar para ela. É tarefa destes indicarem a direção, o caminho certo a seguir. E, ao fazerem isso, aprendem junto com os que aprendem (Ef 6:4). Além do mais, é do parecer paulino que a obediência dos filhos faz parte do seu discipulado cristão (cf. Ef 5:22; 6:5).
É fundamental a presença da família em nossas lutas diárias. O estado natural do homem coloca pais e filhos numa mesma carência de diretrizes bíblicas. A necessidade de um ajuste nos métodos disciplinares da educação no lar revela que “devemos depositar a nossa confiança última em Deus e em sua Palavra e reconhecer humildemente que nossa compreensão das Escrituras não pode ser equiparada aos ensinos das Escrituras em si” (Deus, Casamento e Família, p.152). A Bíblia é essa base comum, tanto estabilizadora de ânimos exaltados como aquela que impõe a autoridade dos pais sem os espinhos da soberba do poder sobre os filhos (Ef 6:1). Desse modo, os filhos não são vítimas da autoridade paterna, mas o resultado do amor entre o casal, bem como “moderadores” de suas imperfeições (Ef 6:4; Cl 3:20,21).
3 – Fazem juntos o caminho do diálogo (7)
Abraão tem no caminho a chance de ensinar e pôr fim às dúvidas do filho acerca da fé em Deus. Observe a pergunta difícil do moço e a resposta sábia do pai: “Onde está o cordeiro para o holocausto, pai?” Abraão não dá a resposta ao filho jogando-o contra a fé em Deus. Isaque não percebe ser ele mesmo o sacrifício, mas recebe do pai o estímulo para confiar sempre em Deus (Gn 22:8). Percebe que o seu pai tem o controle, não porque é forte, mas porque tem a Deus. É Deus quem proverá, não o seu pai! Isso nos serve de ensino, pois os pais devem aprender desde logo a direcionar a fé de seus filhos não para si mesmos, mas para Deus (Gn 48:15; Êx 3:6,13; 2Cr 33:12; Dn 2:23; Cl 3:20,21; 2Tm 1:3).
O diálogo entre pais e filhos acerca de suas lutas e provações, ao invés de criar desilusões e decepções, criará um ambiente de confiança mútua e uma fé forte. Fortalecerá o lar, pois verificará que a família não é forte por estarem os seus membros simplesmente juntos, trabalharem ou edificarem bens. A família é forte por depositar a sua fé em Deus (Sl 127; Pv 24:3).
De que modo o filho é beneficiado por andar ao lado de seu pai?
(a) – O filho que anda com o pai sempre terá a oportunidade para, nos momentos de dúvidas, chamar o pai e ouvi-lo dizer: “Eis-me aqui, meu filho”. O pai estará ali, nem sempre para dar todas as respostas, mas para não deixar vazio o espaço da fé.
Lloyd-Jones nos lembra que a atitude de um homem de Deus é sempre, antes de qualquer disciplina, ouvir o filho. “Não há nada que aborreça tanto aquele que está sendo disciplinado como a percepção de que todo o seu procedimento é irracional” (Vida no Espírito, no Casamento, no lar e no trabalho, p. 220).
(b) – O filho que anda com o pai sempre saberá que há momentos na caminhada que o pai não tem a solução, mas Deus cuidará do lar por amor a ele. Um pai fiel dá a segurança de que Deus não falhará (Gn 32:9; Êx 18:4; 1Rs 8:26). Logo o filho encontrará a sua autonomia do pai, sem medo, pois aprenderá a ser dependente de Deus-Pai (Mt 6:6-15,18,25-34).
A provação de Abraão serve-nos como reflexão, pois obriga-nos a abrir espaço em nossa vida com Deus, bem como em nossas lutas diárias, e abrigar (com sabedoria) os filhos. O propósito não é roubar-lhes a infância ou a juventude. A finalidade é inseri-los numa vida real que trabalha respectivamente com a alma do homem como um todo (Sl 119:9; 98; Fp 2:15; Cl 1:22; 1Tm 3:10).
Abra as janelas de sua vida e convide seu filho a olhar por ela e ver Deus agindo. Que ele possa ver que Deus maravilhoso você serve. Chame a família para andar ao teu lado. Diga “eis-me aqui” ao filho com a mesma prontidão que diz para Deus. Que a sua vida com Deus seja o reflexo Deste no lar.  Pois, “Amar a Deus sem fé é refletir-se sobre si mesmo, mas amar a Deus com fé é refletir-se no próprio Deus” (Temor e Tremor, p.129).

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