Escola Bíblica Dominical: Pais Curados, Filhos Sadios - Se Liga na Informação





Escola Bíblica Dominical: Pais Curados, Filhos Sadios

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TEXTO ÁUREO

Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, 
e mesmo com o passar dos anos 
não se desviará deles.

Provérbios 22:6

                        COMO EDUCAR A CRIANÇA?


Eduque seu filho no conhecimento da Bíblia.
Não podemos fazer nossos filhos amarem a Bíblia, eu sei disso. Ninguém além do Espírito Santo pode dar a eles um coração que se deleite com a Palavra. Mas podemos fazer com que nossos filhos fiquem familiarizados com a Bíblia; e pode ter certeza de que nunca será cedo demais para fazê-lo, e eles nunca estarão familiarizados demais para você dar a tarefa por encerrada.

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Deixe que a Bíblia, simplesmente, seja tudo na educação de suas almas; e que todos os outros livros fiquem em segundo lugar. Faça com que seus filhos leiam a Bíblia reverentemente; em verdade ela é a Palavra de Deus. E faça com que a leiam regularmente. Fale a eles do pecado, de sua culpa, das consequências, do seu poder, de sua vileza — você verá que são capazes de compreender algo a esse respeito. Fale a eles do Senhor Jesus Cristo, do Seu amor, da Sua obra para nossa salvação — Sua cruz, Seu sangue derramado, Sua ressurreição, ascensão e breve retorno. Em tudo você descobrirá algo que não estará além da compreensão deles.

Eduque-os no hábito da oração.

Se você ama seus filhos, faça tudo o que estiver ao seu alcance para educá-los no hábito da oração. Mostre a eles como devem começar. Diga a eles o que devem falar. Encoraje-os a perseverarem. Faça com que se lembrem, caso se tornem descuidados e negligentes neste assunto. Assim como os primeiros passos em qualquer atividade são os mais importantes, o mesmo acontece com a maneira como as orações de nossos filhos são feitas, um assunto que merece nossa maior atenção. São poucos os que parecem compreender o quanto depende disto. Devemos estar atentos para que não passem a fazer suas orações de uma maneira precipitada, descuidada e irreverente.

 Querido leitor, se você ama seus filhos, eu lhe rogo que não deixe passar a época do plantio da semente do hábito de orar. Eduque-os a se reunirem com o povo de Deus numa maneira bíblica. Diga a eles que onde o povo do Senhor estiver reunido ao Seu nome, ali o Senhor Jesus está presente de uma maneira especial, e que aqueles que se ausentam, como o apóstolo Tomé, devem saber que estão perdendo uma bênção. “Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns” (Hb 10:25).
 Não permita que cresçam com o hábito de decidir se querem ou não ir às reuniões. Tampouco gosto de ver aquilo que chamo de “cantinho dos jovens” em uma assembleia. Ali eles com frequência adquirem o hábito de ficar desatentos e irreverentes, o qual leva anos para perder, se é que conseguem perdê-lo. Gosto de ver todos os membros de uma família sentados juntos. “Havemos de ir com os nossos meninos, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas... porque festa do Senhor temos” (Êx 10:9). Também não deveríamos desperdiçar levianamente o Dia do Senhor transformando-o em um dia de recreação e proveito próprio.

 Eduque-os para que lhe obedeçam, mesmo que muitas vezes não saibam o porquê.

Devemos ensiná-los a aceitar tudo aquilo que exigimos deles como sendo para seu próprio bem. Tenho ouvido alguns dizerem que nunca deveríamos exigir das crianças coisas que elas não possam entender; que deveríamos explicar e dar uma razão para tudo o que desejamos que façam. Eu o alerto solenemente contra tal conceito. E vou mais além: creio que se trata de um princípio mau e sem base nas Escrituras. É, sem dúvida alguma, um absurdo fazer mistério de tudo o que fazemos, e há muitas coisas que é melhor que expliquemos às crianças, a fim de verem que são coisas sábias e razoáveis. Porém, criá-las com a ideia de que não devem receber nada sem antes se certificarem — que elas, com sua compreensão fraca e imperfeita, devem ter antes os “por quê?” e os “qual o motivo?” claramente explicados para cada passo que devem dar — trata-se, isto sim, de um temível engano que provavelmente trará um péssimo efeito à mente das crianças.

Coloque diante de seus filhos o exemplo de Isaque quando Abraão levou-o para oferecer sobre o Monte Moriá (Gn 22). Ele perguntou a seu pai simplesmente: “Onde está o cordeiro para o holocausto?” E não recebeu outra resposta além desta: “Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho”. Como, quando, de onde, de que maneira, ou por que meios — nada disso foi dito a Isaque; mas a resposta foi suficiente. Ele creu que tudo estaria bem, pois seu pai lhe dissera, e ficou satisfeito com isso.

Eduque-os no hábito de uma pronta obediência.

Isso compensa o trabalho que dá. Creio que nenhum hábito tem maior influência em nossa vida do que este. Esteja determinado a fazer com que seus filhos lhe obedeçam, mesmo que isso possa custar a você mais trabalho, e a eles mais lágrimas. Que não haja questionamento, argumentação ou disputa, e que eles não procedam de modo a ganhar tempo.

Quando você der uma ordem, faça com que vejam claramente que sua vontade tem que ser cumprida. A característica de uma criança bem educada é fazer tudo o que seus pais ordenam. Pois onde estará a honra de que fala Efésios 6.1-3, se os pais não são obedecidos alegremente, prontamente e de boa vontade? (leia também Cl 3:20).

A obediência que começa cedo conta com todas as Escrituras a seu favor. No elogio que é feito a Abraão não diz apenas que ele iria educar seus filhos, mas “ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele” (Gn 18:19). Acerca do Senhor Jesus foi dito que, quando jovem, era sujeito a Maria e a José (Lc 2:51). Repare que o apóstolo Paulo menciona a desobediência aos pais como um dos maus sinais dos últimos dias (2 Tm 3:2). Você deseja ver seus filhos felizes? Cuide de educá-los para que obedeçam quando recebem uma ordem. Creia-me, não somos feitos para uma completa independência; não servimos para isso. Mesmo os libertos de Cristo têm um jugo para levar — servem a Cristo, o Senhor (Cl 3:24). Nunca é cedo para as crianças aprenderem que este é um mundo onde não podemos querer mandar, e que nunca estaremos em nosso devido lugar enquanto não aprendermos como obedecer. Ensine-os a obedecer enquanto são jovens, ou mais tarde estarão, pelo resto da vida, em guarda contra Deus, dominados pela vã ideia de serem independentes do Seu controle. Você encontrará muitos em nossos dias que permitem que seus filhos escolham e pensem por si próprios muito antes de serem capazes de fazê-lo, e que até mesmo dão desculpas para a sua desobediência, como se fosse algo que não merecesse uma repreensão. Para mim, uma das cenas mais tristes de se presenciar é ver um pai ou uma mãe cedendo sempre, e uma criança tendo sempre a última palavra; triste, pois se trata de uma inversão e perversão da ordem estabelecida por Deus; triste, pois sei que no final, com toda certeza, o caráter daquela criança acabará em vaidade e vontade própria.

 Eduque-os para que falem sempre a verdade, toda a verdade e nada além da verdade.

Deus é apresentado como um Deus de verdade. Menos do que a verdade é uma mentira; aquela fuga, aquela desculpa, ou aquele exagero são meio-caminho para a falsidade, e devem ser evitados. Encoraje-os a serem francos em toda e qualquer circunstância, e a falarem a verdade custe o que custar. Eu insisto nisto para que também possamos ficar mais tranquilos e sermos auxiliados em tudo o que tivermos que tratar com eles. Descobriremos ser isto uma poderosa ajuda, pois poderemos sempre confiar no que disserem. Isto tem um efeito ainda mais amplo, pois ajuda a prevenir aquele hábito que infelizmente prevalece entre as crianças, de fazer as coisas às escondidas.

Eduque-os, lembrando continuamente de como Deus educa os Seus próprios filhos.

Se quiser educar seus filhos sabiamente, preste atenção na maneira como Deus Pai educa os que Lhe pertencem. Ele faz tudo bem feito; o método que Ele adota deve, portanto, ser o correto. Os filhos de Deus, depois de uma longa jornada, poderão dizer a você que foi algo bendito não terem seguido seus próprios caminhos e que o que Deus fez para eles foi muito melhor do que aquilo que poderiam ter feito por si mesmos. Sim, e poderão lhe dizer também que o modo de Deus tratá-los lhes trouxe mais alegria do que eles jamais teriam conseguido por si próprios.

Rogo a você que conserve no coração a lição que lhe ensina o modo como Deus trata Seus próprios filhos. Não tema privar seu filho de tudo aquilo que você considerar poder causar-lhe algum dano, não importa quais sejam os desejos dele. É este o método de Deus. Ser perpetuamente indulgente é a maneira de se criar um egoísta; e pessoas egoístas e crianças arruinadas dificilmente são felizes. Querido leitor, não seja mais sábio do que Deus; eduque seus filhos como Ele educa os que Lhe pertencem. Eduque-os, lembrando-se continuamente da influência do seu próprio exemplo. Não há substituto para a piedade — o real temor de Deus na vida dos pais. Instruções, avisos e ordens terão pouco valor se não tiverem respaldo no modelo apresentado por sua própria vida. Seus filhos nunca crerão que você esteja falando sério, e que deseja que realmente lhe obedeçam, se suas atitudes estiverem contradizendo seus conselhos. Nós pouco conhecemos a força e o poder de um exemplo.
As crianças observam nossos modos, registram a nossa conduta, observam nosso temperamento. Em nenhum outro caso, creio eu, o exemplo fala tão alto quanto no relacionamento entre pais e filhos. Não se esqueça de que seus filhos aprendem mais pelo olho do que pelo ouvido. O que eles veem tem um efeito muito mais forte sobre suas mentes do que aquilo que lhes é falado.

Empenhe-se ao ponto de ser uma epístola viva de Cristo, de modo que seus filhos possam lê-la claramente. Seja um exemplo nas palavras, no temperamento, na diligência, na temperança, na fé, na bondade, na humildade. Acredite que seus filhos não irão praticar aquilo que não virem você praticar. Os pais são o modelo que eles copiarão. Seus raciocínios e suas leituras, suas sábias ordens e seu bom conselho — talvez eles não compreendam tudo isso, mas compreenderão sua vida. A medida de Cristo que você desfruta para si mesmo é a que eles crerão tratar-se de algo real. As crianças são observadoras muito ágeis; muito ágeis em enxergar através da hipocrisia, muito ágeis em adotar todos os seus modos e opiniões; e você logo descobrirá ser verdadeira a expressão: “tal pai, tal filho”. Eduque-os, lembrando continuamente o poder do pecado. Isto o guardará de acalentar esperanças que não são bíblicas.

É triste constatar quanta corrupção e quanto mal existe no coração de uma pequena criança, e quão cedo isso começa a dar fruto. Temperamento violento, vontade própria, orgulho, obstinação, ira, preguiça, egoísmo, engano, astúcia, falsidade, hipocrisia, uma terrível aptidão para aprender o que é mau, uma triste lentidão para aprender o que é bom, uma prontidão para fingir qualquer coisa a fim de atingir seus propósitos. Você não deve achar estranho ou inusitado que corações tão pequenos possam estar tão cheios de pecado. Trata-se da única herança que nosso pai Adão nos deixou: a natureza caída com a qual viemos a este mundo. Nunca dê ouvidos àqueles que dizem que seus filhos são bons e bem-criados, e que são de confiança. No fundo eles precisam apenas de uma pequenina faísca para acender sua corrupção. Normalmente os pais não são muito prontos a admitir isto. Lembre-se da natureza depravada de seus filhos e tome cuidado.

 “Lança o teu pão sobre as águas”, diz o Espírito, “porque depois de muitos dias o acharás” (Ec 11:1).

Não tenho dúvida de que muitas crianças se levantarão no dia do juízo e bendirão a seus pais pela boa educação que receberam, mesmo que nunca tenham dado mostra de haverem tirado algum proveito disso durante a vida de seus pais. Portanto, siga adiante por fé, e pode ter certeza de que seu trabalho não será totalmente em vão. Por três vezes Eliseu se estendeu sobre o corpo do filho da viúva antes que este revivesse.

Siga o exemplo dele e persevere. Eduque-os com contínua oração por bênção em tudo o que você está fazendo. Olhe para seus filhos como fazia Jacó para com os dele; ele diz a Esaú, “os filhos que Deus graciosamente tem dado a teu servo” (Gn 33:5). Olhe para eles como José olhou para os seus, quando disse a seu pai, “Eles são meus filhos, que Deus me tem dado aqui” (Gn 48:9). Considere-os, com o salmista, como “herança do Senhor” (Sl 127:3). Repare como Manué fala ao anjo acerca de Sansão: “Qual será o modo de viver e serviço do menino?” (Jz 13:12) (N.T.: ou, numa tradução livre da versão inglesa, “Como devemos ordenar a criança, e como devemos proceder para com ela?”).
Observe com que ternura Jó cuidava da alma de seus filhos, o qual “oferecia holocaustos segundo o número de todos eles”, pois ele dizia, “porventura pecaram meus filhos, e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente” (Jó 1:5). Pais, se vocês amam seus filhos, vão em frente e façam o mesmo. Nunca será demais trazer à memória o nome de seus filhos diante do propiciatório. Vocês podem mandar seus filhos para as melhores escolas, dar a eles Bíblias e encher suas cabeças com conhecimento; mas se durante todo esse tempo não houver uma educação constante no lar, quero dizer-lhes claramente, temo que no final as coisas sejam difíceis para os seus filhos, no que se refere às suas almas.

Os cálices mais amargos que o homem já bebeu foram aqueles preparados pelos filhos. Filhos têm sido os causadores das mais tristes lágrimas que o homem já derramou. Adão podia falar a respeito disso; Davi também podia fazer o mesmo. Não há tristezas neste mundo como aquelas que filhos trouxeram a seus pais.

 Oh! Tenha cuidado para que sua própria negligência não lhe traga miséria na sua velhice. “Derrama o teu coração como águas diante da face do Senhor: levanta a eles as tuas mãos, pela vida de teus filhinhos” (Lm 2:19).

* * * * * Nota do Editor: O texto aqui publicado é “The duties of parents”, de autoria de J. C. Ryle, e foi editado, contemporizado e adaptado por H. E. Hayhoe. O original inglês pode ser encontrado na web. John Charles Ryle nasceu em 1816 e faleceu em 1900 na Inglaterra
                                                                                                J. C. Ryle


PARTE 1 - SETE HÁBITOS DOS BONS PAIS E DOS PAIS BRILHANTES


Os filhos não precisam de pais gigantes, mas de seres humanos que falem a sua linguagem e sejam capazes de penetrar-lhes o coração.
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Bons pais nutrem o corpo, pais brilhantes nutrem a personalidade Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver: reflexão, segurança, liderança, coragem, otimismo, superação do medo, prevenção de conflitos. Bons pais cuidam da nutrição física dos filhos. Estimulam-nos a ter uma boa dieta, com alimentos saudáveis, tenros e frescos. Pais brilhantes vão além. Sabem que a personalidade precisa de uma excelente nutrição psíquica. Preocupam-se com os alimentos que enriquecem a inteligência e a emoção. Antigamente uma família estruturada era uma garantia de que os filhos desenvolveriam uma personalidade saudável.

Hoje, bons pais estão produzindo filhos ansiosos, alienados, autoritários, angustiados. Muitos filhos de médicos, juizes, empresários estão atravessando graves conflitos. Por que pais inteligentes e saudáveis têm assistido seus filhos adoecerem? Porque a sociedade se tornou uma fábrica de estresse. Não temos controle sobre o processo de formação da personalidade dos nossos filhos. Nós os geramos e os colocamos desde cedo em contato com um sistema social controlador (Foucault, 1998). Eles têm contato diariamente com milhares de estímulos sedutores que se infiltram nas matrizes de sua memória. Por exemplo, os pais ensinam os filhos a ser solidários e a consumir o necessário, mas o sistema ensina o individualismo e a consumir sem necessidade. Quem ganha essa disputa? O sistema social. A quantidade de estímulos e a pressão emocional que o sistema exerce no âmago dos jovens são intensas.

Quase não há liberdade de escolha. Ter cultura, boa condição financeira, excelente relação conjugai e propiciar uma boa escola para os jovens não basta para produzir saúde psíquica. Qualquer animal só consegue escapar das garras de um predador se tiver grandes habilidades. Prepare seus filhos para sobreviverem nas águas turbulentas da emoção e desenvolverem capacidade crítica. Só assim poderão filtrar os estímulos estressantes. Serão livres para escolher e decidir. Os pais que não ensinam seus filhos a ter uma visão crítica dos comerciais, dos programas de TV, da discriminação social os tornam presas fáceis do sistema predatório.

Para este sistema, por mais ético que ele pretenda ser, seu filho é apenas um consumidor em potencial e não um ser humano. Prepare seu filho para "ser", pois o mundo o preparará para "ter". Alimente a inteligência Bons pais ensinam os filhos a escovar os dentes, pais brilhantes os ensinam a fazer uma higiene psíquica. Inúmeros pais imploram diariamente para que os filhos façam a higiene bucal. Mas, e a higiene emocional? De que adianta prevenir cáries, se a emoção das crianças se torna uma lata de lixo de pensamentos negativos, manias, medos, reações impulsivas e apelos sociais? Por favor, ensine os jovens a proteger sua emoção. Tudo que atinge frontalmente a emoção atinge drasticamente a memória e constituirá a personalidade. Certa vez, um excelente jurista me disse no consultório que, se tivesse sabido proteger a sua emoção desde pequeno, sua vida não teria sido um drama. Ele fora rejeitado quando criança por alguém próximo, porque tinha um defeito na face. A rejeição controlou sua alegria. O defeito não era grande, mas o fenômeno RAM registrou-o e realimentou-o. Não teve infância. Escondia-se das pessoas. Vivia só no meio da multidão. Ajude seus filhos a não serem escravos dos seus problemas. Alimente o anfiteatro dos pensamentos e o território da emoção deles com coragem e ousadia.

Não se conforme se eles forem tímidos e inseguros. O "eu", que representa a vontade consciente ou a liberdade de decidir, tem de ser treinado para tornar-se líder e não um fantoche. Ser líder não quer dizer ter capacidade para resolver tudo e assumir todos os problemas à nossa volta. Os problemas sempre existirão. Se forem solucionáveis, temos de resolvê-los. Se não temos condições de resolvê-los, precisamos aceitar nossas limitações. Mas jamais devemos gravitar na órbita deles. Se você tivesse a capacidade de entrar no palco da mente dos jovens, constataria que muitos são atormentados por pensamentos ansiosos. Alguns se angustiam com as provas escolares. Outros, com cada curva do corpo que detestam. Outros ainda acham que ninguém gosta deles. Muitos jovens têm uma péssima auto-estima.

Quando a baixa auto-estima nasce, a alegria morre. Certa vez, um jovem de dezesseis anos me procurou após uma palestra. Disse que diariamente destruía sua tranqüilidade ao pensar que um dia ficaria velho e morreria. Ele estava começando a vida, mas se perturbava com seu fim. Quantos jovens não estão sofrendo, sem que nem mesmo seus pais ou seus professores lhes perscrutem o coração?

 O cárcere da emoção tem aprisionado milhões de jovens. Eles sofrem em silêncio. Depois de fechar as páginas deste livro, converse com eles.
Que educação é esta que fala sobre o mundo em que estamos e se cala sobre o mundo que somos? Pergunte sempre aos seus filhos:

 "O que está acontecendo com você?",
"Você precisa de mim?",
"Você tem vivido alguma decepção?",
"O que eu posso fazer para torná-lo mais feliz?".

De que adianta você cuidar diariamente da nutrição de bilhões de células dos seus filhos mas descuidar da nutrição psicológica? De que adianta terem um corpo saudável se são infelizes, instáveis, sem proteção emocional, fogem dos seus problemas, têm medo das críticas, não sabem receber um "não"? Nenhum pai no mundo daria alimento estragado aos filhos, mas fazemos isso com a nutrição psicológica. Não percebemos que tudo que eles arquivam controlará suas personalidades. Alimente a personalidade de seus filhos com sabedoria e tranqüilidade. Fale das suas peripécias, dos seus momentos de hesitação, dos vales emocionais que atravessou. Não deixe que o solo da sua memória se transforme numa terra de pesadelos, mas num jardim de sonhos. Não se esqueça de que tropeçamos nas pequenas pedras e não nas montanhas.

 As pequenas pedras no inconsciente se transformam em grandes colinas. O pessimismo é um câncer da alma Você pode não ter dinheiro, mas, se for rico em bom senso, será um pai ou uma mãe brilhante. Se você contagiar seus filhos com seus sonhos e entusiasmo, a vida será enaltecida. Se for um especialista em reclamar, se mostrar medo da vida, temor pelo amanhã, preocupações excessivas com doenças, estará paralisando a inteligência e a emoção deles. Sabe quanto tempo demora um conflito psíquico, sem tratamento e sem fundo genético, para ter remissão espontânea? Às vezes, três gerações. Por exemplo, se um pai tem obsessão por doenças, um dos filhos poderá registrar esta obsessão continuamente e reproduzi-la. O neto poderá tê-la com menos intensidade. Somente o bisneto poderá ficar livre dela. Quem estuda os papéis da memória sabe da gravidade do processo de transmissão das mazelas psíquicas. Demonstre força e segurança aos seus filhos.

 Diga freqüentemente a eles: "A verdadeira liberdade está dentro de você", "Não seja frágil diante das suas preocupações!", "Enfrente as suas manias e ansiedade", "Opte por ser livre! Cada pensamento negativo deve ser combatido, para não ser registrado". O verdadeiro otimismo é construído pelo enfrentamento dos problemas e não pela sua negação. Por isso, as palestras de motivação raramente funcionam. Elas não dão ferramentas para gerar um otimismo sólido, que nutre o "eu" como líder do teatro da inteligência. Por isso, a linha deste livro é de divulgação científica. Meu objetivo é dar ferramentas. De acordo com pesquisas em universidades americanas, uma pessoa otimista tem 30% de chances a menos de ter doenças cardíacas.

Os otimistas têm menos chances ainda de ter doenças emocionais e psicossomáticas. O pessimismo é um câncer da alma. Muitos pais são vendedores de pessimismo. Já não basta o lixo social que a mídia deposita no palco da mente dos jovens, muitos pais transmitem para eles um futuro sombrio. Tudo lhes é difícil e perigoso. Estão preparando os filhos para temer a vida, fechar-se num casulo, viver sem poesia.

Nutra seus filhos com um otimismo sólido! Não devemos formar super-homens, como preconizava Nietzsche. Pais brilhantes não formam heróis, mas seres humanos que conhecem seus limites e sua força.

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Bons pais preparam os filhos para os aplausos, pais brilhantes preparam os filhos para os fracassos

Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver: motivação, ousadia, paciência, determinação, capacidade de superação, habilidade para criar e aproveitar oportunidades.

Bons pais preparam seus filhos para receber aplausos, pais brilhantes os preparam para enfrentar suas derrotas. Bons pais educam a inteligência lógica dos filhos, pais brilhantes educam a sensibilidade. Estimule seus filhos a ter metas, a procurar o sucesso no estudo, no trabalho, nas relações sociais, mas não pare por aí. Leve-os a não ter medo dos seus insucessos. Não há pódio sem derrotas. Muitos não sobem no pódio, não por não terem capacidade, mas porque não souberam superar os fracassos do caminho. Muitos não conseguem brilhar no seu trabalho porque desistiram nos primeiros obstáculos.

Alguns não venceram porque não tiveram paciência para suportar um não, porque não tiveram ousadia para enfrentar algumas críticas, nem humildade para reconhecer suas falhas. A perseverança é tão importante quanto a habilidade intelectual. A vida é uma longa estrada que tem curvas imprevisíveis e derrapagens inevitáveis. A sociedade nos prepara para os dias de glória, mas são os dias de frustração que dão sentido a essa glória.

Revelando maturidade, os pais brilhantes se colocam como modelos de vida para uma vida vitoriosa. Para eles, ter sucesso não é ter uma vida infalível. Vencer não é acertar sempre. Por isso, eles são capazes de dizer aos filhos: "Eu errei", "Desculpeme", "Eu preciso de você". Eles são fortes nas convicções, mas flexíveis para admitir suas fragilidades. Pais brilhantes mostram que as mais belas flores surgem após o mais rigoroso inverno. A vida é um contrato de risco Pais que não têm coragem de reconhecer seus erros nunca ensinarão seus filhos a enfrentar seus próprios erros e a crescer com eles.

Pais que admitem que estão sempre certos nunca ensinarão seus filhos a transcender seus fracassos. Pais que não pedem desculpas nunca ensinarão seus filhos a lidar com a arrogância. Pais que não revelam seus temores terão sempre dificuldade de ensinar seus filhos a ver nas perdas oportunidades para serem mais fortes e experientes. Temos agido assim com nossos filhos, ou desempenhamos apenas as obrigações triviais da educação? Viver é um contrato de risco.

Os jovens precisam viver este contrato apreciando os desafios e não fugindo deles. Se eles se intimidarem diante das derrotas e dificuldades, o fenômeno RAM registrará em sua memória milhares de experiências que financiarão o complexo de inferioridade, a baixa auto-estima e o sentimento de incapacidade. Qual é a conseqüência? Um jovem que tem baixa auto-estima se sentirá diminuído, inferiorizado, sem capacidade para correr risco e para transformar suas metas em realidade. Poderá viver um envelhecimento emocional precoce. A juventude deveria ser a melhor época do prazer, embora tenha suas inquietações. Mas muitos são velhos no corpo de jovens. Ser idoso não quer dizer ser velho.

Aliás, muitos idosos, por serem felizes e motivados, são mais jovens na sua emoção do que grande parte dos jovens da atualidade. Qual é a característica de uma emoção envelhecida, sem tempero e motivação? Incapacidade de contemplação do belo e uma capacidade intensa de reclamar, pois nada satisfaz prolongadamente. Reclamar do corpo, da roupa, dos amigos, da falta de dinheiro, da escola e até de ter nascido. A capacidade de reclamar é o adubo da miséria emocional e a capacidade de agradecer é o combustível da felicidade. Muitos jovens fazem muitas coisas para ter uma migalha de prazer. Eles mendigam o pão da alegria, mesmo morando em palácios.

Os jovens que se tornam mestres em reclamar têm grande desvantagem competitiva. Dificilmente conquistarão espaço social e profissional. Alerte-os! Como os jovens entendem o que é a memória dos computadores, compare-a com a memória humana. Diga-lhes que toda reclamação é acompanhada de um alto grau de tensão, que, por sua vez, sofre um arquivamento privilegiado pelo fenômeno RAM na memória, que lentamente destrói o júbilo da emoção. Os melhores anos da vida são sufocados. Pouco a pouco, eles perdem o sorriso, a garra, a motivação.

Descobrindo a grandeza das coisas anônimas Leve seus filhos a encontrar os grandes motivos para serem felizes nas pequenas coisas. Uma pessoa emocionalmente superficial precisa de grandes eventos para ter prazer, uma pessoa profunda encontra prazer nas coisas ocultas, nos fenômenos aparentemente imperceptíveis: no movimento das nuvens, no bailar das borboletas, no abraço de um amigo, no beijo de quem ama, num olhar de cumplicidade, no sorriso solidário de um desconhecido. Felicidade não é obra do acaso, felicidade é um treinamento. Treine as crianças para serem excelentes observadoras. Saia pelos campos ou pelos jardins, faça-as acompanhar o desabrochar de uma flor e descubra juntamente com elas o belo invisível. Sinta com seus olhos as coisas lindas que estão a seu redor. Leve os jovens a enxergar os singelos momentos, a força que surge nas perdas, a segurança que brota no caos, a grandeza que emana dos pequenos gestos.

As montanhas são formadas por ocultos grãos de areia. As crianças serão felizes se aprenderem a contemplar o belo nos momentos de glória e de fracassos, nas flores das primaveras e nas folhas secas do inverno. Eis o grande desafio da educação da emoção! Para muitos, a felicidade é loucura dos psicólogos, delírio dos filósofos, alucinação dos poetas. Eles não entenderam que os segredos da felicidade se escondem nas coisas simples e anônimas, tão distantes e tão próximas deles.

Bons pais dão informações, pais brilhantes contam histórias

Este hábito dos pais brilhantes contribui fará desenvolver: criatividade, inventividade, perspicácia, raciocínio esquemático, capacidade de encontrar soluções em situações tensas. Bons pais são uma enciclopédia de informações, pais brilhantes são agradáveis contadores de histórias. São criativos, perspicazes, capazes de extrair das coisas mais simples belíssimas lições de vida.
 Querem ser pais brilhantes?
 Não apenas tenha o hábito de dialogar, mas de contar histórias. Cativem seus filhos pela sua inteligência e afetividade, não pela sua autoridade, dinheiro ou poder. Tornem-se pessoas agradáveis. Influenciem o ambiente onde eles estão.

Sabe qual é o termômetro que indica se vocês são agradáveis, indiferentes ou insuportáveis?
A imagem que os filhos dos seus amigos têm de vocês. Se eles têm prazer em se aproximar, vocês passaram no teste. Se eles os evitam, vocês foram reprovados e terão de rever suas atitudes. Sempre fui um contador de histórias. Minhas filhas adolescentes me pedem até hoje para contá-las. Os pais que são contadores de histórias não têm vergonha de usar seus erros e dificuldades para ajudar os filhos a mergulhar dentro de si mesmos e encontrar seus caminhos. Quando os filhos estão desesperados, com medo do amanhã, com receio de enfrentar um problema, esses pais entram em cena e criam histórias que transformam a emoção ansiosa dos filhos numa fonte de motivação.
 Certa vez, uma de minhas filhas foi criticada por algumas jovens por ser uma pessoa simples, não gostar de ostentação e também por não compactuar com a preocupação excessiva com a estética. Estava se sentindo rejeitada e triste. Após ouvi-la, libertei minha imaginação e contei-lhe uma história. Disse-lhe que algumas pessoas preferem um bonito sol pintado num quadro, outras preferem um sol real, ainda que esteja coberto pelas nuvens. Perguntei-lhe: qual é o sol que você prefere? Ela pensou e escolheu o sol real. Então, completei, mesmo que as pessoas não acreditem no seu sol, ele está brilhando. Você tem luz própria. Um dia, as nuvens que o encobrem se dissiparão e as pessoas irão enxergá-lo. Não tenha medo das críticas dos outros, tenha medo de perder a sua luz.
 Ela nunca mais se esqueceu dessa história. Ficou tão feliz que a contou para várias de suas amigas. Ser feliz é um treinamento e não uma obra do acaso.

 Qual é uma das mais excelentes maneiras de educar? Contar histórias.
Contar histórias amplia o mundo das idéias, areja a emoção, dilui as tensões. A chegada de um novo irmão pode gerar reações agressivas, rejeições, regressões instintivas (ex., perda do controle do ato de urinar) e mudanças de atitude no irmão mais velho, comprometendo a formação da sua personalidade. O bebê se torna, às vezes, um estranho no ninho. Pais habilidosos criam histórias, desde a gestação do bebê, que incluem ambos os irmãos em experiências divertidas e que incentivam o companheirismo. O mais velho incorpora essas histórias, deixa de encarar o mais novo irmão como rival e desenvolve afetividade por ele.

Ensine muito falando pouco O Mestre dos mestres foi um excelente educador porque era um contador de parábolas. Cada parábola que ele contou há dois mil anos era uma rica história que abria o leque da inteligência, destruía preconceitos e estimulava o pensamento. Este era um dos segredos pelos quais ele vivia rodeado de jovens.

Os jovens apreciam pessoas inteligentes. Para ser inteligente não é preciso ser um intelectual ou um cientista, basta criar histórias e inserir nelas lições de vida. Muitos pais são engessados nas suas mentes. Acham que não são criativos, que não têm perspicácia e inteligência. O que não é verdade. Tenho convicção, como pesquisador da inteligência, de que cada pessoa tem um potencial intelectual enorme que está represado. Recordo-me de um paciente autista que não produzia qualquer pensamento lúcido. Sua incapacidade intelectual era enorme. Depois de usar algumas ferramentas que estimularam o fenômeno RAM, as janelas da sua memória se abriram.
Após dois anos de tratamento, não apenas estava pensando com brilhantismo, mas também contando histórias. Todos os seus colegas de classe ficavam pasmos com sua imaginação. Há um contador de histórias dentro do ser humano mais hermético e fechado. Se, às vezes, nem você mesmo suporta seu jeito fechado de ser, como quer que seus filhos o ouçam? Não grite, não agrida, não revide com agressividade.

Pare! Conte histórias para quem você ama.
Você pode ensinar muito falando pouco. Tenha intrepidez para mudar! Seja inventivo. Você pode educar muito se desgastando pouco. Pais brilhantes estimulam seus filhos a vencer seus temores e a viver com suavidade. São contadores de histórias, são vendedores de sonhos. Se você conseguir fazer seus filhos sonharem, terá um tesouro que muitos reis procuraram e não conquistaram.

                                                                                   Augusto Jorge Cury


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                     PESCADORES DE CRIANÇA

                                       Capítulo 8: A criança Timóteo e seus mestres

Hoje em dia, visto que o mundo contém, ai!, tão poucas mães sábias e avós cristãs, a igreja achou por bem suplementar a instrução do lar com ensino mantido sob sua asa protetora. As crianças que não têm tais pais, a igreja toma sob seu cuidado maternal. Vejo isso como uma abençoada instituição. Sou agradecido pelos muitos irmãos e irmãs nossos que dão seus domingos, e muitos deles uma boa parte de suas noites da semana também, para ensinar os filhos de outras pessoas, que de alguma forma vão se tornando também filhos deles. Procuram desempenhar as obrigações de pai e mãe, por amor a Deus, para as crianças que são negligenciadas por seus próprios pais, e nisso fazem bem.

 Que nenhum dos pais cristãos caia na ilusão de que a Escola Dominical vise aliviá-los de seus deveres pessoais. A condição primária e mais natural das coisas é que os pais cristãos eduquem suas próprias crianças no nutrimento e na admoestação do Senhor. Que as santas avós e graciosas mães, com seus esposos, cuidem que seus próprios meninos e meninas sejam bem ensinados no Livro do Senhor. Onde não há esses pais cristãos, devem intervir pessoas piedosas. É um trabalho cristão quando outros assumem o dever que os praticantes naturais deixaram de fazer. O Senhor Jesus olha com prazer para aqueles que alimentam seus cordeiros, e amamentam seus bebês; pois não é de sua vontade que nenhum desses pequenos pereça. Timóteo teve o grande privilégio de ser ensinado por aquelas cujo dever natural é esse; mas onde esse grande privilégio não pode ser desfrutado, que todos nós, conforme Deus nos ajudar, tentemos compensar para as crianças a terrível perda que sofrem. Adiantem-se, homens e mulheres sinceros, e santifiquem-se para esse trabalho feliz.

Observe o tema da instrução: "Desde criança você conhece as Sagradas Letras"--ele foi levado a tratar o livro de Deus com grande reverência. Coloco ênfase nessa palavra "sagradas Escrituras". Um dos primeiros objetivos da escola Dominical deve ser ensinar às crianças grande reverência por esses escritos santos, essas Escrituras inspiradas. Os judeus estimavam o Antigo Testamento além de todo preço; e embora infelizmente muitos deles tenham caído em uma reverência supersticiosa para com a carta e perdido o espírito da coisa, contudo devem ser louvados pela profunda estima que tinham pelos oráculos santos. Esse sentimento de reverência é necessário.

Eu me encontro com homens que têm pontos de vista estranhos, mas não me importo nem com a metade de seus pontos de vista, nem com a estranheza deles, tanto como com um certo quê que vejo por traz desse novo modo de pensar. Quando descubro isso, se provo que não são bíblicos seus pontos de vista, assim mesmo não lhes provei nada, pois eles não se importam com a Escritura; então eu descobri um princípio muito mais perigoso do que uma mera precipitação doutrinária. Essa indiferença para com a Bíblia é a maior maldição da igreja nesta hora presente. Podemos ser tolerantes de opiniões divergentes, contanto que percebamos uma intenção sincera de seguir o livro estatutário. Mas se chega a isso, que o Livro em si é de pequena autoridade para você, então não precisamos dialogar mais: estamos em acampa-mentos diferentes, e quanto mais cedo reconhecermos isso, melhor para todas as partes envolvidas. Se vamos ter qualquer igreja de Deus na Terra, a Bíblia precisa ser vista como sagrada, e ser tratada com reverência. Essa Escritura foi dada por santa inspiração, e não é o resultado de mitos obscuros e tradições duvidosas; nem ela caiu até nós ao sabor do acaso, pela sobrevivência do mais apto, como um dos melhores livros. Precisa ser dada às nossas crianças, e aceita por nós, como sendo a revelação do Santíssimo Deus. Coloque bastante ênfase sobre isso; diga a seus filhos que a Palavra do Senhor é uma Palavra pura, "como prata purificada num forno de terra, sete vezes refinada". Faça com que sua estima pelo Livro de Deus seja levada ao mais alto ponto.

Observe que Timóteo foi ensinado, não só a reverenciar as coisas santas em geral, mas especialmente a conhecer as Escrituras. O ensino de sua mãe e sua avó foi o ensino da Escritura santa. Vamos supor que reunamos as crianças no dia do Senhor, e então passemos a diverti-las e fazer as horas passarem agradavelmente; ou que ensinemos como fazemos em dias da semana, os elementos de uma educação moral, o que fizemos? Nada digno do dia ou da igreja de Deus. Suponhamos que sejamos cuidadosos ao ensinar para as crianças as regras e os regulamentos de nossa própria igreja, e não as levemos às Escrituras; suponhamos que lhes damos um livro que seja visto como o padrão de nossa igreja, mas não nos firmamos na Bíblia, o que fizemos? Esse padrão pode ou não ser correto, e nós podemos, então, ter ensinado às crianças a verdade ou ter ensinado o erro, mas se ficamos na Bíblia sagrada não podemos nos desviar. Com esse padrão, sabemos que estamos certos. Esse Livro é a Palavra de Deus, e se a ensinamos, ensinamos aquilo que o Senhor aceitará e abençoará.

Ah, queridos professores--e falo aqui para mim mesmo também--, que nosso ensino seja cada vez mais bíblico! Não se preocupem se nossas classes esquecem o que nós dizemos, mas implore que eles se lembrem do que o Senhor diz. Possam as verdades divinas sobre o pecado, e a justiça e o julgamento vindouro, serem escritos no coração deles! Possam as verdades reveladas sobre o amor de Deus, a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e a operação do Espírito Santo, nunca serem esquecidas por eles! Possam eles conhecer a virtude e a necessidade do sangue remidor de nosso Senhor, o poder de sua ressurreição e a glória de sua segunda vinda! Possam as doutrinas da graça ser gravadas com a pena de ferro em sua mente, e ser escritas com a ponta de um diamante em seu coração para nunca serem apagadas! Se conseguirmos isso, não vivemos em vão. A geração que agora governa parece resolvida a apartar-se da verdade eterna de Deus; mas não nos desesperaremos se o evangelho for impresso na memória da raça que vem surgindo.

Mais uma vez sobre esse ponto: parece que o jovem Timóteo foi ensinado de tal modo quando ele era criança que o ensino foi eficaz. "Você conhece as Sagradas Letras", diz Paulo (2Tm 3.15a). Já é muita coisa dizer de uma criança que ela conhece as Escrituras, mas que "desde criança você conhece" é outra coisa. Você poderá dizer: "Eu ensinei as Escrituras para as crianças", mas que elas já as conhecem é bem outra coisa. Será que todos vocês que já cresceram conhecem as Escrituras? Temo que embora o conhecimento geral cresça, o conhecimento das Escrituras seja raro demais. Se fôssemos agora fazer um exame, temo que alguns de vocês dificilmente brilhariam nas listas finais. Mas eis aqui um garotinho que conhecia as Escrituras sagradas, isso significa dizer que ele tinha boa familiaridade com elas.

As crianças podem conseguir isso, não é de modo algum um feito impossível. Deus abençoando seus esforços, caros amigos, seus filhos poderão conhecer toda a Escritura que é necessária para sua salvação. Podem ter uma idéia tão clara do pecado como sua mãe tem; podem ter uma visão tão clara da expiação como sua avó pode ter; eles podem ter uma fé em Jesus tão distinta como qualquer de nós pode ter. As coisas que cooperam para nossa paz não requerem longa experiência para nos preparar para recebê-las; estão entre as simplicidades do pensamento. Pode correr quem as lê, e uma criança pode lê-las logo que pode correr. A opinião de que as crianças não podem receber a verdade toda do evangelho é um grande erro, pois sua condição de criança é uma ajuda em vez de um empecilho; os mais velhos precisam se tornar crianças pequenas antes de poderem entrar no reino. Dê um bom alicerce para as crianças. Que o trabalho da aula da Escola Dominical não seja deixado de lado, nem feito de qualquer jeito. Que as crianças conheçam as Escrituras Sagradas. Que a Bíblia seja consultada em vez de qualquer livro humano.

Esse trabalho foi estimulado por uma fé salvadora. As Escrituras não salvam, mas podem tornar um homem sábio para a salvação. As crianças podem conhecer as Escrituras e, contudo, não serem filhas de Deus. A fé em Jesus Cristo é aquela graça que traz salvação imediata. Muitas queridas crianças são chamadas por Deus tão cedo que não podem dizer precisamente quando é que foram convertidas; mas foram convertidas, devem, em alguma ocasião, ter passado da morte para a vida. Você poderia não saber dizer hoje de manhã, por observação, o momento em que o sol raiou, mas raiou; e houve uma hora que esteve abaixo do horizonte, e outra hora em que já tinha se levantado acima dele. O momento, quer o vejamos ou não, em que a criança é realmente salva, é quando ela crê no Senhor Jesus Cristo. Talvez por anos, Lóide e Eunice estivessem ensinando o Antigo Testamento a Timóteo, enquanto elas mesmas não conheciam o Senhor Jesus e, se foi assim, estavam ensinando o tipo sem o antitipo--os enigmas sem as respostas -, mas foi bom ensino assim mesmo, visto que era toda a verdade que conheciam na época.

Quanto mais feliz, contudo, é nossa tarefa, visto que estamos habilitados a ensinar sobre o Senhor Jesus tão claramente, tendo o Novo Testamento para explicar o Antigo! Será
que nós não podemos esperar que, ainda mais cedo na vida do que Timóteo, nossas queridas crianças possam pegar a idéia de que Cristo Jesus é a soma e substância da Bíblia, e assim pela fé nele possam receber o poder de tornarem-se filhos de Deus? Menciono isso, simples como é, porque quero que todos os professores sintam que se suas crianças ainda não conhecem todas as doutrinas da Bíblia, e se há certas verdades mais altas ou mais profundas que suas mentes ainda não alcançaram, mesmo assim as crianças são salvas logo que são sábias para a salvação pela fé que está em Cristo Jesus. Fé no Senhor Jesus, conforme é exposto na Bíblia, salva mesmo. "Você pode, se crê de todo o coração", disse Filipe ao eunuco; e nós dizemos a mesma coisa para toda criança: você pode confessar sua fé se você tem qualquer fé verdadeira em Jesus para confessar. Se você crê que Jesus é o Cristo, e assim põe sua confiança nele, você está tão verdadeiramente salvo como se tivesse cabelo grisalho a adornar sua fronte.
Por essa fé em Cristo Jesus nós prosseguimos e avançamos na salvação. No momento em que cremos em Cristo, somos salvos, mas não somos imediatamente tão sábios como podemos ser e esperamos ser. Podemos ser, como se fosse, salvos sem que seja inteligentemente, isto é, num sentido comparativo; mas é desejável que possamos dar uma razão da esperança que há em nós, e assim sermos sábios para a salvação.
Pela fé, as crianças se tornam pequenos discípulos, e pela fé vão adiante para tornarem-se mais capazes. Como é que avançamos para a sabedoria? Não é largando o caminho da fé, e sim conservando aquela mesma fé em Cristo Jesus pela qual começamos a aprender. Na escola da graça, a fé é a grande faculdade pela qual fazemos progressos em sabedoria. Se pela fé você pôde dizer A e B e C, precisa ser por fé que você irá adiante para dizer D e E e F, até que chegue ao fim do alfabeto e seja perito no Livro de Sabedoria. Se por fé você pode ler a cartilha da fé simples, pela mesma fé em Cristo Jesus você pode ir adiante para ler nos clássicos de afirmação total, e tornar-se um escriba bem instruído nas coisas do reino. Portanto, conserve-se junto da prática da fé, da qual tantos estão se desviando.

Nestes tempos, os homens buscam fazer progresso por aquilo que chamam de pensamento, com o que querem dizer vãs imaginações e especulação. Não podemos avançar nem um passo pela dúvida; nosso único progresso é pela fé. Não existem tais coisas como "degraus de nossos egos mortos"; a não ser que sejam degraus para baixo, para a morte e destruição; os únicos degraus para a vida e o céu são encontrados na verdade de Deus revelada à nossa fé. Creia em Deus, e você já fez progresso. Então, oremos por nossas crianças, que constantemente possam conhecer e crer mais e mais; pois a Escritura é capaz de torná-las sábias para a salvação, mas somente pela fé que está em Cristo Jesus. A fé é o resultado que deve ser visado; a fé no escolhido, ungido e exaltado Salvador. Este é o ancoradouro para o qual queremos trazer esses naviozinhos, pois aqui ficarão em perfeita segurança.
A instrução segura na Escritura sagrada, quando vivificada por uma fé viva, cria um caráter sólido. O homem que desde criança conhece as sagradas Escrituras, quando obtém fé em Cristo, será alicerçado e estabelecido sobre os princípios duradouros da Palavra imutável de Deus.
Oh, mestres, vejam o que podem fazer! Em suas escolas, estão sentados nossos futuros evangelistas. Naquela classe dos menorzinhos está sentado um apóstolo para alguma terra distante. Poderá vir sob sua mão de treinamento, minha irmã, um futuro pai em
Israel. Virão sob seu ensino, meu irmão, aqueles que carregarão as bandeiras do Senhor no grosso da batalha. As eras olham para vocês cada vez que sua classe se reúne. Ah, que Deus os ajude a fazer bem a sua parte! Oremos com um só coração e uma alma para que o Senhor Jesus Cristo esteja em nossas Escolas Dominicais do dia de hoje até que ele venha!

Capítulo 20: Alguma coisa boa de Abias (1) (1Reis 14.13)

Jeroboão provou ser falso para com o Senhor que o havia colocado no trono de Israel, e o tempo de ser derrubado do trono tinha chegado. O Senhor, que geralmente mostra a vara antes de levantar o machado, mandou doença para a casa dele: Seu filho, Abias, caiu doente. Então, os pais se lembraram de um velho profeta de Deus, e desejaram saber dele o que aconteceria com a criança. Temendo que o profeta denunciasse pragas sobre ele e seu filho se soubesse que quem perguntava era a esposa de Jeroboão, o rei implorou à princesa egípcia com quem ele se casara que se disfarçasse de esposa de fazendeiro e, assim, conseguisse do homem de Deus uma resposta mais favorável. Pobre rei tolo, imaginar que um profeta que podia enxergar o futuro não poderia também ver através de qualquer disfarce com o qual sua rainha pudesse se cercar! Tão ansiosa estava a mãe para saber a sorte de seu filho, que ela saiu do quarto do menino doente para ir a Siló ouvir a sentença do profeta. Foi em vão o seu disfarce! O profeta cego ainda era um vidente, e não só a discerniu antes que entrasse na casa, como viu o futuro de sua família. Ela chegou cheia de superstição para saber sua sorte, mas saiu com o peso da tristeza, tendo ouvido seus defeitos e seu fim.
Nas terríveis novas que o profeta Aías transmitiu a essa esposa de Jeroboão havia só um ponto de luz, só uma palavra de consolo; e parece não ter consolado à rainha pagã. A criança misericordiosamente estava marcada para morrer, "pois é o único da família de Jeroboão em quem o Senhor, o Deus de Israel, encontrou alguma coisa boa" (1Re 14.13).

Vamos olhar o pouco que sabemos do jovem príncipe, Abias. Seu nome era apropriado. Um bom nome pode pertencer a um homem bem mau; mas, neste caso, um nome gracioso foi bem empregado. Ele chamava Deus de seu Pai, e seu nome quer dizer isso. Ab é a palavra para Pai, e Jah é Jeová--Jeová era seu Pai. Eu não teria mencionado o nome não tivesse sua vida tornado isso verdade. Ah, vocês que têm bons nomes bíblicos, tratem de não desonrá-los!
Havia nessa criança "alguma coisa boa para com o Senhor Deus de Israel"; mas o que era? Quem o definirá? Um campo ilimitado de suposições se abre diante de nós. Sabemos que havia nele algo bom, mas que forma esse bem tomou não sabemos. A tradição já fez afirmações, mas como são meras invenções para preencher lacunas, nem vale a pena mencioná-las. É provável que nossas reflexões se aproximem tanto dessas evidências como essas tradições improváveis. Poderemos aprender muito com o silêncio das Escrituras: não nos dizem precisamente qual era a coisa boa, porque qualquer coisa boa para com o Senhor é um sinal suficiente de graça. Embora a fé da criança não seja mencionada, acreditamos que ela tinha fé no Deus vivo, visto que sem isso nada nele teria agradado a Deus; pois "sem fé é impossível agradar a Deus". Ele era uma criança crente em Jeová, o Deus de Israel: talvez sua mãe tivesse deixado que ele mesmo pedisse para procurar o profeta do Senhor. Muitos falsos profetas estavam por ali no palácio: seu pai poderia não ter mandado ninguém a Siló, se o menino não tivesse pedido. O menino acreditava no grande Deus invisível que fez os céus e a terra, e ele o adorava em fé.

Não me surpreenderia, porém, se, naquela criança, seu amor fosse mais aparente do que sua fé; porque crianças convertidas na maioria das vezes falam em amar Cristo mais do que de confiar nele: não porque não tenham fé interior, mas porque a emoção do amor é mais compatível com a natureza da criança do que o ato mais intelectual da fé. O coração da criança é bem grande, e o amor, portanto, torna-se seu fruto mais notado. Não duvido que essa criança tenha mostrado uma afeição desde cedo para com o Jeová não visto, e uma aversão pelos ídolos da corte do pai. Possivelmente, tenha demonstrado horror do culto de Deus sob a figura de um bezerro. Até uma criança seria capaz de entender que devia ser errado igualar o grande e glorioso Deus a um animal com chifres e patas. Talvez a natureza aguçada da criança também achasse repugnantes aqueles sacerdotes baixos, dos confins da Terra, que seu pai tinha reunido. Não sabemos exatamente a forma que assumiu, mas havia "alguma coisa boa" no coração da criança para com Jeová, Deus de Israel.

Não se tratava apenas de uma boa inclinação que havia nele, nem um bom desejo, mas sim uma virtude substancial, realmente boa. Havia nele uma verdadeira e substancial existência de graça, e isso vai muito além de um desejo passageiro. Qual a criança que nunca, em uma ou outra ocasião, se foi treinada no temor do Senhor, sentiu tremores de coração e aspirações em direção a Deus? Essa qualidade é tão comum como o orvalho da manhã; mas, ai!, também acaba tão depressa como o orvalho. O jovem Abias possuía algo em seu interior suficientemente real e substancial para isso ser chamado de uma "boa coisa"; o Espírito de Deus operara uma obra segura nele, e deixara nele uma jóia valiosa de graça. Admiremos esta coisa boa, embora não possamos descrevê-la com precisão.
Admiremos, também, que esta "coisa boa" estivesse no coração da criança, porque sua entrada é desconhecida. Não podemos dizer como a graça penetrou no palácio de Tirza e ganhou esse coração juvenil. Deus viu a coisa boa, pois ele vê as menores coisas boas em nós, visto que tem um olho rápido para perceber qualquer coisa que se volta para sua direção. Mas como essa obra preciosa chegou à criança? Não nos é dito, e esse silêncio é uma lição para nós. Não é essencial sabermos como uma criança recebe graça. Não precisamos ficar ansiosos para saber quando, onde ou como uma criança é convertida; pode ser até impossível saber, pois o ato pode ter sido tão gradual que não se possa conhecer o dia e a hora. Mesmo aqueles que são convertidos em anos mais maduros não podem descrever sua conversão em detalhe, muito menos podemos manear a experiência de crianças que nunca entraram em pecado externo, mas que o comedimento de uma educação piedosa tem observado os mandamentos desde a sua mocidade, como o jovem da narrativa no evangelho.
Como foi que essa criança passou a ter essa "coisa boa" em seu coração? Até aqui sabemos: estamos certos de que Deus a colocou ali; mas por meio de quê? A criança, com toda probabilidade, não ouviu os ensinamentos dos profetas de Deus; ele nunca foi levado, como o menino Samuel, para a casa do Senhor. Sua mãe era uma princesa idólatra, seu pai estava entre os piores dos homens, e mesmo assim a graça de Deus alcançou seu filho. Será que o Espírito do Senhor operou no seu coração através de seus

próprios pensamentos? Teria ele pensado no assunto, e chegado à conclusão de que Deus era Deus, e que ele não precisava adorá-lo como seu pai o adorava, sob a imagem de um bezerro? Até uma criança podia ver isso. Será que algum hino a Jeová foi cantado embaixo do palácio por algum adorador solitário? Tinha a criança visto seu pai naquele dia em que ele ergueu a mão contra o profeta de Jeová no altar de Betel, onde de repente sua mão direita se encolheu ao seu lado? Será que as lágrimas apareceram nos olhos do menino quando viu seu pai assim paralisado no braço de sua força? E será que riu de pura alegria de coração quando pela oração do profeta seu pai ficou bom de novo? Aquele grande milagre de misericórdia fez com que ele amasse o Deus de Israel? Será mera imaginação pensar que isso pode ter acontecido? Uma mão direita mirrada num pai, e esse pai um rei, é uma coisa que é quase certo a criança ter ouvido contar, e se foi restaurada pela oração, a admiração naturalmente encheu o palácio, e era assunto para todos, e o príncipe o ouviria.

Ou será que essa criança pequena teve uma ama piedosa? E se alguma menina como aquela que servia a esposa de Naamã foi a mensageira de amor para ele? Carregando-o para lá e para cá, a babá cantava para ele um dos cânticos de Sião, e lhe contava sobre José e Samuel? Israel não tinha deixado seu Deus há tanto tempo que estivesse sem muitos seguidores fiéis do Deus de Abraão, e talvez por intermédio de um deles suficiente conhecimento tenha sido transmitido à criança para se tornar o meio de passar o amor de Deus à alma dele. Podemos supor, mas não podemos falar que temos certeza, de que tenha sido assim, nem há necessidade disso. Se o sol se levanta, faz pouca diferença quando o dia amanheceu. Que nós, quando vemos nas crianças alguma coisa boa, ficamos contentes com essa verdade, mesmo quando não conseguimos dizer como isso aconteceu. Ao amor eletivo de Deus, nunca faltam meios para desempenhar seu propósito: Ele pode mandar sua graça eficaz para o cerne da família de Jeroboão, e enquanto o pai está prostrado diante de seus ídolos, o Senhor pode achar um verdadeiro adorador para si no filho do próprio rei. "Dos lábios das crianças e dos recém-nascidos firmaste o teu nome como fortaleza, por causa dos teus adversários." Teus passos nem sempre são vistos, ó, Deus da graça, mas nós aprendemos a adorar-te em tua obra, mesmo quando não discernimos teu caminho.

Essa "boa coisa" é descrita até certo ponto. Foi uma "coisa boa para Jeová, o Deus de Israel". A coisa boa olhava para o Deus vivo. Nas crianças muitas vezes se encontram coisas boas com respeito aos seus pais: que estas sejam cultivadas - mas não são evidências suficientes de graça. Nas crianças, às vezes, serão encontradas coisas boas no que diz respeito à amabilidade e excelência moral: que todas as coisas boas sejam louvadas e nutridas, mas não são frutos seguros de graça. É em relação a Deus que a coisa boa deve estar para que possa salvar a alma. Lembre-se de como lemos no Novo Testamento sobre o arrependimento no que diz respeito a Deus e sobre a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Como a face da coisa boa se revela é um ponto principal a seu respeito. Há vida em um olhar. 

Se um homem está viajando para longe de Deus, cada passo que ele dá amplia a distância; mas se seu rosto estiver voltado para o Senhor, ele pode ser apenas capaz do passo cambaleante da criancinha, mas mesmo assim ele está se aproximando mais e mais a cada momento. Havia algo de bom nessa criança em relação a Deus, e esta é a marca mais distinta de uma coisa realmente boa. A criança tinha amor, e havia nela amor para com Jeová. Tinha fé, mas era fé em Jeová. Seu temor religioso era o temor do Deus vivo; seus pensamentos infantis, desejos, orações e hinos diziam respeito ao verdadeiro Deus. É isso que desejamos ver não só em crianças, mas em adultos; desejamos ver seus corações voltados para o Senhor, com a mente e as vontades movendo-se em direção ao Altíssimo.

Nessa querida criança, aquela "coisa boa" criou um caráter exterior tal que ela se tornou muito amada. Estamos certos disso, porque foi dito que "todo o Israel chorou por ele" (1Re 14.18). Ele era provavelmente o herdeiro à coroa de seu pai, e havia corações piedosos em Israel que esperavam ver tempos de reforma quando aquele jovem chegasse ao trono; e talvez mesmo aqueles que não se importavam com religião, mas de algum modo tinham marcado o jovem e observado sua entrada e saída diante deles, teriam dito: "Ele é a esperança de Israel; ainda haverá melhores dias quando aquele menino se tornar homem"; de modo que, quando Abias morreu, só ele de toda sua raça recebeu tanto lágrimas quanto uma sepultura; morreu lamentado, e foi enterrado com respeito, enquanto todos os restantes da casa de Jeroboão foram devorados por cães e abutres.

É uma grande benção quando há uma coisa tão boa em nossos filhos que eles venham a ser queridos em suas esferas. Eles não têm todo o raio de influência que esse jovem príncipe gozava de modo a ter admiração universal; mas, ainda assim, a graça de Deus numa criança é uma coisa muito bela, e atrai aprovação geral. A piedade juvenil é coisa muito tocante para mim; eu vejo a graça de Deus em homens e mulheres com muita gratidão, mas não consigo percebê-la em crianças sem chorar de alegria. Há uma grande beleza nesses botões de rosa do jardim do Senhor; eles têm uma fragrância que não encontramos nos lírios mais lindos. Ganha-se o amor para o Senhor Jesus em muitos corações com essas pequeninas setas do Senhor, das quais a própria pequenez é parte de seu poder de penetrar o coração. Os ímpios podem não amar a graça que está nas crianças, mas visto que amam as crianças nas quais essa graça é encontrada, não conseguem mais falar contra a religião como fariam de outro modo. Sim, e mais, o Espírito Santo usa essas crianças para fins mais elevados ainda, e aqueles que as vêem muitas vezes ficam marcadas com desejos de coisas melhores.

Capítulo 21: Alguma coisa boa de Abias (2)

Ele não usava o filactério largo, mas tinha um espírito manso e quieto. Pode não ter sido grande orador, senão talvez se dissesse dele: "Ele falou coisas boas a respeito do Deus de Israel"; ele pode ter sido um garoto tímido, reservado, quase silencioso, mas a boa coisa estava "nele". E este é o tipo de coisa que desejamos para cada um de nossos amigos, uma obra de graça interior. O ponto importante não é usar a vestimenta, nem usar a fala da religião, mas possuir a vida de Deus dentro de si, e sentir e pensar como Jesus faria por causa dessa vida interior. Pequeno é o valor exterior a não ser que seja o resultado de uma vida interior. A graça verdadeira não é como uma roupa, que pode ser vestida e tirada; mas é uma parte integral da pessoa que a possui. A piedade dessa criança era do tipo verdadeiro, pessoal, interior: possam todas as nossas crianças possuir alguma coisa boa!
Disseram-nos que essa boa coisa "foi encontrada" nela: isso significa que era bem visível, pois a expressão "encontrada" é usada mesmo quando não significa uma grande busca. O Senhor não diz mesmo: "Fui achado por aqueles que não me procuravam" (Rm 10.20)? A piedade zelosa do tipo infantil logo se revela; em geral, uma criança é bem menos reservada nas palavras do que um homem; seus lábios não ficam imóveis por prudência reservada, ao contrário, revelam o coração. Piedade numa criança aparece mesmo na aparência, de modo que pessoas que chegam à casa como visitantes ficam surpresos com as afirmações naturais que revelam o pequeno cristão. Muitas pessoas em Tirza não tinham como não saber que essa criança tinha alguma coisa boa em relação a Jeová. Podiam não se preocupar em entender isso, podiam esperar que isso fosse oprimido na criança pelo exemplo da corte à sua volta, mesmo assim sabiam que estava lá, fizeram essa descoberta sem dificuldade.

Contudo, a expressão tem outro sentido: sugere que quando Deus, o examinador rigoroso, que prova as rédeas dos filhos dos homens, visitou essa criança, ele encontrou nela algo para louvor e glória: "alguma coisa boa" foi descoberta nela por aqueles olhos que não podem ser enganados. Nem tudo que reluz é ouro, mas o que estava nessa criança era o metal genuíno. Ah, que isso possa ser verdade sobre cada um de nós quando formos testados como pelo fogo! Pode ser que o pai do menino estivesse zangado com ele por servir a Jeová, mas qualquer que tenha sido sua tribulação, ele saiu dela incólume.

Para mim, a expressão sugere surpresa. Como essa boa coisa entrou na criança? "Nela foi encontrado alguma coisa boa"--como quando um homem encontra um tesouro num campo. O fazendeiro não pensava em nada senão em seus bois, suas terras e sua colheita, quando de repente o arado deixou à vista um tesouro escondido: ele o achou onde estava, mas não podia saber como esse tesouro chegou até ali. Assim, nessa criança, colocada em posição nada vantajosa, para surpresa de todos, ali se encontrou alguma coisa boa para com o Senhor Deus de Israel. Sua conversão está velada em mistério. Não nos contaram como era a graça em seu coração, nem de onde veio, nem que ações especiais produzia, mas ali estava, encontrada onde ninguém a esperava. Creio que esse caso é típico de muitas das crianças eleitas a quem Deus chama por sua graça nas praças e vielas das grandes cidades. Não pense em anotar a experiência delas, seus sentimentos e sua vida, e somar tudo; não espere saber datas e meios especificamente, mas você precisa aceitar a criança assim como temos de aceitar Abias, alegrando-nos em achar nela uma pequena maravilha de graça com o selo do próprio Deus sobre ela. O velho profeta, em nome do Senhor, atestou o jovem príncipe como um seguidor do Altíssimo de coração puro; e do mesmo modo o Senhor coloca sua marca de graça atestando as crianças regeneradas, e devemos ficar contentes com isso, mesmo que faltem algumas outras coisas. Vamos receber com alegria essas obras do Espírito Santo que nós nem sabemos descrever com precisão.

Tudo o que se diz sobre este caso é que nele havia "alguma coisa boa"; e isso deve ser compreendido como se a obra divina fosse apenas uma centelha de graça, o início da vida espiritual. Não havia nada muito marcante nele, ou seria mencionado com mais clareza. Ele não era um seguidor heróico de Jeová, e seus feitos de lealdade a Deus não estão escritos, porque por razão de seus tenros anos ele não teve nem poder nem oportunidade para fazer muita coisa que pudesse ser escrita. À medida que compreendemos que nele havia "alguma coisa boa", subentende-se que não era uma coisa perfeita, e que não era acompanhada de todas as coisas boas que se pudesse desejar. Faltavam muitas coisas boas, mas "alguma coisa boa" se manifestou, e, portanto, a criança foi aceita e, por amor divino, salva de uma morte ignóbil.

Somos capazes de passar sem ver "alguma coisa boa" numa casa má. Esta foi a maior maravilha de tudo, o fato de haver uma criança graciosa no palácio de Jeroboão. A mãe geralmente domina a casa, mas a rainha era uma princesa do Egito e uma idólatra. Um pai tem grande influência, mas, neste caso, Jeroboão pecou e fez a nação de Israel pecar, mas não pôde fazer seu filho pecar. Toda a Terra sente a influência pestilenta de Jeroboão, contudo, perto de seus pés há um espaço belo que a graça soberana salvou da praga; seu primogênito, que normalmente imitaria seu pai, é o contrário dele--ali estava o herdeiro de Jeroboão, "alguma coisa boa em relação a Jeová, Deus de Israel". Em tal lugar nós não procuramos por graça, e somos capazes de passar sem vê-la. Se você for às praças de nossas grandes cidades, que são magníficas, você verá que fervilham de crianças dos pobres, você não espera encontrar graça onde o pecado existe em abundância. Nos recantos e vielas das grandes cidades, ouvimos blasfêmia e vemos viciados por todo lado, mas nem por isso devemos concluir que ali não há uma criança de Deus; não devemos dizer: "O amor eleitor de Deus nunca caiu sobre qualquer uma dessas crianças". Como podemos saber? Uma dessas criancinhas vestidas pobremente, brincando em cima de uma pilha de pó, pode ter encontrado Cristo por aí, e pode estar destinada a um lugar à mão direita de Cristo. Preciosa é esta jóia, embora fundida no meio dessas pedrinhas. Brilhante é aquele diamante, embora se ache em cima do monturo. Se na criança há "alguma coisa boa em relação ao Senhor Deus de Israel", ela deve assim mesmo ser valorizada porque seu pai é um ladrão e sua mãe bebe demais. Nunca despreze a criança mais maltrapilha.

Na Irlanda, um ministro, que estava pastoreando uma pequena congregação protestante, notou por vários domingos, em pé no corredor perto da porta, um menino muito maltrapilho, que escutava o sermão com avidez. Ele desejava saber quem era o menino, mas o garoto sempre desaparecia logo que o sermão terminava. Ele pediu a um ou dois amigos que vigiassem, mas de alguma forma o garoto sempre escapava, e não podia ser descoberto. Um Domingo, o pastor pregou um sermão que dizia: "Sua própria mão direita e seu braço santo lhe conseguiram a vitória", e depois desse dia sentiu falta do menino. Seis semanas se passaram, e a criança não veio mais, mas um homem desceu das montanhas e rogou ao ministro que fosse ver seu menino, que estava morrendo. Ele vivia num casebre muito pobre. Andaram seis quilômetros na chuva, por terra encharcada e sobre morros, e o ministro chegou à porta do casebre. Ao entrar, o pobre garoto que estava sentado na cama viu o pregador; ele agitou seu braço e exclamou alto: "Sua própria mão direita e seu braço santo lhe conseguiram a vitória". Foi sua última exclamação, seu brado final de triunfo. Quem sabe se não há muitos e muitos casos em que a mão direita do Senhor e seu braço santo lhe conseguiram a vitória, a despeito da pobreza, do pecado e da ignorância que podem ter rodeado o jovem convertido? Então, não desprezemos a graça, onde quer que seja, mas valorizemos com vontade aquilo que facilmente somos capazes deixar passar sem que percebamos.

Nós não podemos entender que as crianças queridas que amam a Deus possam muitas vezes ser chamadas a sofrer. Dizemos: "Ora, se fosse meu filho, eu o curaria e tiraria os sofrimentos dele imediatamente." Mas o Pai Todo-Poderoso permite que seus queridos sofram. A criança piedosa de Jeroboão está prostrada pela doença, e seu pai ímpio não está doente, e sua mãe não está doente; podíamos quase desejar que estivessem, para que fizessem menos maldade. Só um piedoso na família, e ele doente! Por que isso aconteceu? Por que é assim em outros casos? Você pode encontrar um menino cheio de graça que é aleijado, uma menina com a mente voltada ao céu que é tuberculosa: muitas vezes, verá a mão pesada de Deus descansando onde seu amor eterno fixou sua escolha. Há um sentido em tudo isso, e nós conhecemos um pouco disso; e se nada soubéssemos, mesmo assim creríamos na bondade do Senhor. O filho de Jeroboão era como o figo do sicômoro, que não amadurece até que seja machucado: pela sua doença, ele amadureceu rapidamente para a glória. Também, foi pelo bem de seu pai e de sua mãe que ele estava doente. Se estivessem dispostos a aprender pela tristeza, isso poderia ter abençoado muito a eles. Pelo menos os impulsionou a irem ao profeta de Deus. Ah, se pelo menos o impulso os tivesse levado ao próprio Deus! Já aconteceu de uma criança enferma conduzir parentes cegos ao Salvador, e com isso os olhos deles foram abertos.
Há algo ainda mais notável: algumas das crianças mais queridas de Deus morrem ainda novos. Eu teria dito: que Jeroboão morra e sua esposa também, mas que a criança seja poupada. Sim, mas a criança precisa ir; ela é a mais capacitada. Sua partida teve o propósito de atribuir glória à graça de Deus por salvar essa criança, e assim aperfeiçoá-la. Seria a recompensa da graça, pois a criança foi tirada do mal que viria; era para morrer em paz e ser sepultada, enquanto o resto de sua família enfrentaria a morte pela espada e seria entregue aos chacais e aos abutres para serem rasgados em pedaços.

 No caso desta criança, sua morte precoce foi uma prova de graça. Se alguém disser que crianças convertidas não devem ser recebidas na igreja, eu responderei: como é que o Senhor leva tantos delas para o céu? O Senhor, em misericórdia infinita, muitas vezes leva as crianças para si, e as salva das tribulações de uma longa vida e da tentação, não só porque há graça nelas, mas há muito mais graça do que o normal, que não é necessário demorar; já estão maduras para a colheita. É maravilhoso ver que uma grande graça pode habitar o coração de um menino: a piedade infantil não é de modo algum de um tipo inferior, e por vezes está madura para o céu.
                                                                            C.H Spurgeon


 FONTE : 




Estudo Bíblico O Mito dos Pais Perfeitos


Há alguns anos, minha família e eu estávamos em uma viagem à Guatemala. Fomos lá visitar um homem que havia dedicado sua vida para servir em uma pobre congregação. Sentados à mesa, ao lado daquele obreiro dedicado ao árduo trabalho pastoral em uma nação com tantas dificuldades, conversamos sobre como fazia para educar seus quatro filhos. Ainda lidando com os desafios de criar nossos seis filhos, confessamos-lhe nossas limitações e falhas nessa árdua tarefa. “Seus meninos já estão grandes. O que o senhor aprendeu dos tempos em que eles ainda estavam na infância?”. Tínhamos a expectativa de que poderia nos dar preciosos conselhos. Mas ele não tinha nada a nos dizer. “Não sou a melhor pessoa para dar esses conselhos”, retrucou. “Não me enquadro no tipo perfeito de modelos parentais”. Um de seus filhos tinha problemas com vícios e outro viu seu casamento ruir.

Em silêncio após um momento, balançando lentamente a cabeça, ele continuou: “Eu também nunca supri as expectativas de minha mãe. Recentemente, lendo seu diário, descobri que os planos que tinha para mim não foram cumpridos, pois fiz escolhas diferentes das que ela esperava que eu fizesse”. Com voz entristecida, emendou: “Acho que ela me considera um fracassado”. Enquanto considerava que sua mãe também era um fracasso, questionei algumas coisas importantes. Dificilmente estou sozinha em minhas preocupações. Mais do que qualquer outra geração, os pais de hoje em dia estão preocupados com a possibilidade de estragarem a vida de seus filhos. Estudos feitos em 2006 mostram que pais e mães têm índice de depressão maior do que aqueles que não têm filhos. O livro de Judith Warner, Perfect Madness: Motherhood in an age of anxiety, capta a obsessão nacional quanto ao sucesso dos pais na educação dos seus filhos. O artigo de Joan Acocella na New Yorker, em novembro de 2008, The Child Trap, mostra, numa crônica quase desrespeitosa, a busca pelo sucesso de alguns que o autor qualifica como “pais até demais”.

A preocupação é tão grande que tem levado a uma enxurrada de lançamentos editoriais sobre o tema. Confessions of a Slacker Mom; The Three Martini Playdate: A Practical Guide to Happy Parenting; e Bad Mother: A Chronicle of Mothernal Crimes, Minor Calamities, and Occasional Moments of Grace. Nestes e em outros tantos livros populares, mulheres apresentam as mais diversas razões pela negligência na árdua tarefa de ser mãe. O que se percebe é que boa parte dos pais cristãos está na linha de frente da luta pelo sucesso na educação dos filhos. Tendo minha primeira experiência de maternidade enquanto ainda estava no meu primeiro ano de faculdade, logo percebi que a maior preocupação de um pai crente é a de que seus filhos abandonem a fé e deixem de servir a Deus. Parece que muitos de nós não são bem sucedidos nesse quesito. A saída de pessoas das igrejas nos Estados Unidos é muito grande, depois que se tornam jovens adultos. Uma pesquisa do Grupo Barna mostrou que 61% das pessoas nesta faixa encontram-se desviados do Evangelho. Mais recentemente, uma pesquisa intitulada LifeWay aprofundou a informação. Segundo o estudo, sete em cada 10 jovens entre 18 e 30 anos, que frequentavam igrejas protestantes na infância e adolescência, deixaram de frequentá-las até a idade de 23 anos. Sem entrar no mérito de qual pesquisa é mais precisa, um detalhe é claro – muitos dos jovens que cresceram na igreja não estão mais entre os seus membros.

Se isso não é suficiente para deixar os pais em pânico, as conclusões de outra pesquisa feita em 2008 pode assustá-los. Acerca dela, Sharon Bagley, em artigo publicado na revista Newsweek e intitulado But I Did Everything Right, mostra que, ao contrário da opinião de muitos experts, a genética pode ter mais influência sobre os filhos do que algumas práticas dos pais. Uma frase do texto é particularmente inquietante: “É importante lembrar que pais têm apenas influência sobre a vida de seus filhos”.

ESFORÇO NULO

A serem verdadeiros os dados dos estudos, diversas coisas deverão ser questionadas, inclusive questões relacionadas à justiça. Afinal, todo o esforço dos pais evangélicos para manter seus filhos nos caminhos do Senhor – como admoestam as Escrituras no texto de Provérbios 22.6 –, a fim de que mais tarde não se desviem deles, pode ser nulo diante de algumas determinações genéticas. A reação imediata de indignação por causa destas pesquisas, contudo, deve ser repensada. Ao invés de confundir a verdade bíblica, esses estudos podem ajudar a Igreja e as famílias a entender algumas questões que têm sido negligenciadas ou distorcidas por décadas.

Não se pode negar que a ideia de que crianças nasçam como uma tábula rasa ainda permanece, de alguma forma, em nossa cultura. John Rosemond, psicólogo cristão de famílias e articulista, afirma que constantemente ouve pais afirmando que se sentem culpados quando algo de errado acontece com seus filhos. “Eles sentem isso porque acreditam na existência de uma psicologia determinista. Isto é, que os pais são capazes de determinar quem seus filhos são”, enfatiza o especialista. Muitos pais e autores cristãos têm absorvido esse determinismo espiritual – na verdade, uma absorção desse determinismo psicológico e sua espiritualização, inclusive com a busca de versículos bíblicos que deem base para tais argumentações. O resultado é uma versão cristã desse mito cultural, algo como “técnicas parentais cristãs produzem filhos tementes a Deus”. Provérbios 22.6 tem sido adotado como uma premissa psicológica e teológica para tal tese, a despeito de haver uma grande corrente hermenêutica que sustenta que os versos daquele livro bíblico não são conselhos divinos, mas máximas proclamadas por homens como o rei Salomão. Ele próprio, que teria escrito tal conselho, falhou na exemplificação dessa suposta verdade, já que, ao longo da vida e na velhice, abandonou os ensinos espirituais de seu pai, Davi.

A despeito de tudo isso, algumas técnicas têm sido desenvolvidas para assegurar que os filhos de cristãos tenham o futuro que seus pais desejam. Ao menos um desses programas – dizendo ter instruções corretas de educação dos filhos nos caminhos do Senhor – vendeu milhões de exemplares. Alguns dos autores mais conservadores estão tão convencidos dos seus métodos e técnicas que chegam a fazer, naturalmente, analogias do treinamento das crianças com objetos, como se o desenvolvimento infantil pudesse ser equiparado com o crescimento de tomates, por exemplo, ou com o adestramento de cães.
 

AÇÕES X FRUTOS

Embora o peso da responsabilidade trazida por essa teoria possa assustar, ela parece apresentar algumas vantagens. Uma delas é que é muito mais fácil medir o sucesso dos pais na educação de seus filhos. Basta examinar as evidências – a principal delas, o que acontece com os nossos filhos. Um autor chegou ao ponto de escrever: “Se pais fazem algo que parece ser bíblico, mas os frutos colhidos não são bons, eles definitivamente não fizeram o que a Bíblia prescreve”. Podemos estar certos disso, ele afirma, porque a Palavra de Deus nos apresenta tudo o que precisamos fazer para que nossos filhos cresçam tementes a Deus – nesta ótica, caso os princípios sejam corretamente aplicados, nenhum pai ficará desapontado. Muitos cristãos acreditam nesta tese. “Observe e aprenda com pais vencedores”, diz outro escritor cristão. “Pais vencedores são aqueles que têm filhos ‘obedientes’, ‘conhecedores da Palavra de Deus’, ‘respeitosos’ e ‘que vivem sua fé Cristo’, ele escreve. “Devemos seguir o exemplo desses pais, e não o dos fracassados”, sentencia.

Os exemplos bíblicos de campeões espirituais nos movem para uma direção completamente diferente. A galeria de heróis da fé, registrada em Hebreus 11, apresenta uma série de personagens que, através da fé, “venceram reinos, praticaram justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, apagaram a força do fogo”. Crentes de tamanha fé que, diz a Bíblia, deles o mundo não era digno. Esses gigantes espirituais foram criados em lares que nada de extraordinário tinham, e alguns deles nem foram bons exemplos de pais ou mães. Abraão, por exemplo, teve um filho com a serva de sua mulher, Sara. Isaque e Rebeca tinham, abertamente, suas respectivas predileções entre os irmãos Esaú e Jacó. Rebeca fez com que seu filho mais novo cometesse algo terrível: roubasse a primogenitura de Esaú, o primogênito. Jacó aprendeu muito bem o que sua mãe lhe ensinou, e fez o mesmo com sua família, tendo declaradamente um favorito dentre seus filhos. Moisés, por sua vez, teve a filha mais nova, pagã, de faraó, como sua mãe adotiva. Já Jefté era filho de uma prostituta, e matou sua única filha por causa de um terrível voto.

Muitos outros exemplos das Escrituras confundem nossas expectativas parentais. Jônatas, o melhor amigo de Davi, foi um exemplo de homem justo e leal, ao contrário de seu terrível pai, o rei Saul. Além disso, o menino Josias, apontado como alguém que serviu ao Senhor “com todo o seu coração, toda sua alma e toda sua força”, conforme II Reis 23.25, tornou-se um rei justo no lugar de seu pai Amon, descrito no mesmo livro como alguém que “fez o que era mau aos olhos do Senhor”. Pelos padrões atuais, muitas dessas famílias seriam consideradas fracassadas, já que nutriam em seu meio práticas pecaminosas como poligamia, prostituição, inveja, ódio, predileção.

Determinismo espiritual – Precisamos confessar, logo, que há uma grande falha em nosso entendimento sobre a relação entre pais e filhos. Temos nos colocado numa posição que está além da que ocupamos, além de termos posto Deus em uma posição aquém à sua. Consequentemente, passamos a achar que temos mais controle sobre as situações do que, na realidade, possuímos. Inclusive, faz parte de nossa herança, como afirmou o psicólogo Harriet Lerner ,achar que podemos resolver todos os problemas, inclusive aqueles que estão além de nossas possibilidades. A raiz de boa parte de nosso sofrimento como pais deve-se ao fato de crermos que temos controle total sobre nossos filhos, quando na verdade não temos nem mesmo o controle sobre nossas próprias vidas.

A atitude de julgarmos a nós mesmos pelos nossos filhos, e a nossos filhos por nós mesmos, tem uma série de implicações. Ela revela uma visão distorcida de formação espiritual. Sempre partimos do pressuposto de que filhos de cristãos, quer eles tenham professado sua fé em Cristo ou não, darão as mesmas demonstrações de maturidade espiritual que esperamos ver nos outros: amor, alegria, paz, paciência, bondade – para apresentar apenas uma lista inicial. Só que, quando abraçamos esse determinismo espiritual, a partir de categorias humanas de formação espiritual, acabamos por falhar em nossos julgamentos alheios. A pergunta que fazemos a nós mesmos precisa ser reformulada. Precisamos parar de perguntar se somos pais bem sucedidos, e começar a perguntar se somos pais fiéis. Fidelidade, acima de qualquer coisa, é o que Deus requer de nós. Parece, então, que temos feito as perguntas erradas como pais. Estamos tão preocupados conosco – com nosso sucesso, nossos interesses – que encaramos a tarefa de educação dos filhos como uma prova. O resultado, a partir desse sistema, tem mostrado que temos falhado, já que muitos dos nossos filhos abandonam a igreja depois que saem da nossa casa. Agora, vem a genética dizer que essa tarefa é mais rígida do que imaginamos.

Parece ser impossível sermos aprovados, como pais, nesse teste. Preocupados com isso, sempre encontraremos pais e filhos mais felizes, obedientes e crentes do que nós. E pais com maiores porcentagens de formação dos tais “campeões espirituais”. Se nos colocarmos em uma escala, vamos perceber que somos ainda mais falhos. Foi por essa razão que um Salvador nos foi apresentado e oferecido pela graça, mediante a fé – “E isso não vem de nós, mas de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8,9). Se até mesmo nossa habilidade de confiar em Deus vem dele, porque achamos que podemos fazer qualquer outra coisa com base em nós mesmos? É preciso, antes, prostrarmo-nos diante do trono de Deus e clamarmos por sua ajuda para sermos bons pais.

Precisamos também repensar nosso chamado. Fomos convocados para apresentar aos nossos filhos o caminho da verdade “assentados em nossa casa, andando pelo caminho, deitando ou levantando” (Deuteronômio 6.7). Somos ainda conclamados a não suscitarmos nossos filhos à ira, mas a os criarmos “na doutrina e admoestação do Senhor”, conforme Efésios 6.4. É fundamental, contudo, conhecer os próprios limites. Não seremos capazes de formar perfeitos seguidores de Cristo, assim como nós não somos perfeitos. Nosso trabalho não pode garantir nem comprar a salvação de ninguém. Pais com filhos desviados, amigos com filhos nas prisões, pesquisas genéticas e os heróis da fé nos fazem lembrar da mesma coisa: a de que, mesmo crentes em Jesus, somos pais imperfeitos, nossos filhos farão suas próprias escolhas e Deus conduzirá todas as coisas de forma majestosa para o avanço do seu Reino.

Begley conclui com a seguinte frase: “É importante lembrar que pais têm apenas influência sobre a vida de seus filhos”. As Escrituras nos ensinam essa verdade – a de que só Deus é soberano sobre suas vidas. Crianças não são laranjas a serem plantadas e colhidas, animais a serem treinados ou números a serem equacionados. São seres humanos, feitos de forma majestosa. A educação de filhos, como qualquer outra tarefa debaixo do sol, exige amor, esforço, risco, perseverança e, acima de tudo, fé. Trata-se de fé, e não de uma fórmula; de graça, e não convicções próprias; de dedicação, e não sucesso. São essas coisas que farão com que nossos esforços, debaixo da graça de Deus, levem nossos filhos a crescer de forma saudável.

Autor: Leslie Leyland Fiela

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