O cristão e o palavrão - Se Liga na Informação





O cristão e o palavrão

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Leia abaixo, uma brilhante reflexão sobre palavrões de autoria de Norma Braga Venâncio, doutora em literatura francesa pela UFRJ e mestranda em teologia filosófica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Seu blog fala sobre cosmovisão cristã, teologia, arte e política.

Um dia, surpreendi-me comigo mesma quando, conversando com uma irmã após o culto, ouvi-a dizer m**** em meio a um discurso irritado. Não deixei que ela percebesse, mas aquele palavrão provocou em mim uma reação tão forte que não hesitei em classificá-lo como um nada previsível escândalo. Veio então o escândalo do escândalo: horrorizada por ter ficado tão escandalizada com um simples m****, resolvi, dali em diante, revogar a decisão anterior. Recomecei a dizer palavrões normalmente, não com a mesma frequência que no período pré-conversão, mas com regularidade quando sozinha e em companhia de cristãos tão "descolados" quanto eu.

Depois de algum tempo, porém, comecei a me sentir incomodada com o recurso frequente aos palavrões. Sozinha, bastava ficar irritada, que lá vinha um bem cabeludo, e em voz alta. Inquietava-me diante de Deus e também diante de um possível “flagra” dos homens: e se algum pastor, dentre meus conhecidos, passasse na rua exatamente em um momento desses? Somava-se a essas considerações uma vergonha especial: eu, não só profissional da palavra, mas uma missionária de idéias segundo minha própria definição, ciosa por abençoar a igreja com o que digo e escrevo, poria muito a perder com uma boca destemperada. Além disso, o ato de praguejar, longe de servir como vazão à raiva, apenas contribuía para confirmar a disposição errada de espírito. Tudo estava errado, mas eu ainda não me convencia totalmente de que deveria voltar a me abster dos palavrões.

Comecei então a orar a Deus sobre isso, até me dar conta do óbvio-mais-que-óbvio, algo de uma obviedade tão grande que passa despercebida da maioria dos simpatizantes de palavrões. Percebi que todos os palavrões, dos menores aos maiores, têm algo em comum: remetem invariavelmente ao sexo. São menções aos genitais, a coitos indesejados e/ou ilícitos, prostitutas e filhos de prostitutas, materiais fecais etc. A lógica do palavrão é estranha: ele une o ato de esbravejar e xingar aos dejetos do corpo ou ao ato sexual. E, mais estranho ainda, os palavrões que tratam de dejetos são bem menos fortes e mais tolerados socialmente que os que tratam do ato sexual. Palavrões, portanto, em suas formas mais pesadas, associam o sexo a explosões de raiva, a punições, ao descontrole entre pessoas que não se amam. 

E a conclusão é inevitável e aterradora: palavrões são formas de perversão. Se Deus criou o sexo como a expressão máxima do amor perpétuo, compromissado, entre um homem e uma mulher, é de um profundo desamor que nascem as aberrações sexuais – a masturbação, o "sexo casual", o aviltamento de partes do corpo até que se estraguem. Palavrões são cristalizações, no idioma, da alienação total de si e do outro pela busca de um prazer sempre deslocado, desgarrado, fora da alma: um prazer masoquista, misturado a ódio e desespero. Por que essas expressões tão opostas ao amor de Deus deveriam povoar a linguagem de um cristão?
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Depois dessas reflexões decidi, não por pressão do meio, mas por mim mesma, que não quero que nada do que digo tenha parte nisso. Nem quando eu estiver sozinha, nem em pensamento. 
Nota do blog: Jesus em Mateus 12:34-36 advertiu as pessoas sobre o impacto das palavras que elas proferem: “…a boca fala do que está cheio o coração. O homem bom do seu bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do seu mau tesouro tira coisas más. Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado”.

Aqueles que professam o cristianismo não costumam sair por aí soltando palavrões, mas se deixamos algumas palavras profanas escaparem das nossas bocas de vez em quando ficamos chateados, ainda precisamos aprender a manter o nosso discurso sob controle. O que você diz quando acidentalmente dá uma topada no dedão do pé, ou prende a mão na porta do carro? Você fica surpreso com o que sai de sua boca durante uma discussão com seu cônjuge?

Nossas palavras não são apenas expressões casuais que não afetam realmente aqueles que nos rodeiam. As palavras têm um poder incrível. Elas podem construir ou destruir nações, famílias, igrejas, carreiras ou negócios. Enquanto palavras negativas podem machucar outras pessoas e desonrar a Deus, palavras positivas podem abençoar aos outros e honrar a Deus. Deus em Sua Palavra nos convida a participar na oração do Salmo 19:14 que exorta: “Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis aos teus olhos, ó Senhor, Rocha minha e Redentor meu”.

Veja como você pode usar suas palavras para a bênção, não para a maldição:

1. Confessar e se arrepender. Reconheça as vezes que você fala palavras que não agradam a Deus e que ferem a outros, reconheça que esta profanação é errada, e decida parar de maldizer de uma vez por todas.

2. Peça a Deus para ajudá-lo a controlar o seu discurso. Não libere o poder destrutivo através de palavras negativas. Mas ao invés de simplesmente evitar o discurso negativo, se esforce para falar palavras positivas quantas vezes for possível. Se você permitir que sua boca torne-se serva de Deus, não há fim para o bem que Ele pode fazer através de você.

3. Verifique o seu pensamento. Lembre-se que Jesus disse que a boca fala do que está cheio o coração. Tome um olhar honesto sobre as atitudes que estão ocultas em seu coração. Cada atitude no seu coração começa com um pensamento em sua mente. Examine o que o leva a usar palavrões, e ore para que Deus lhe dê a força para enfrentar e superar as tentações. Peça ao Espírito Santo para renovar a sua mente para se livrar de pensamentos negativos e preenchê-la com pensamentos positivos. Preste atenção em como você pensa em diferentes situações, e tente manter um registro de seus pensamentos por um tempo para que você possa voltar a eles e estudá-los mais tarde para entender melhor o que passa pela sua mente. Preste atenção especial à forma como o estresse físico ou emocional afeta seus pensamentos, e esteja ciente de que você fica especialmente vulnerável durante períodos em que você está com fome, cansado ou chateado com alguma coisa.

4. Considere o que você está permitindo entrar em sua mente através de seus sentidos. O que você está ouvindo, vendo, ou lendo? Será que honra a Deus, ou será que contém palavras que desonram a Ele? Se você é atraído por algo que desonra a Deus, por que você está atraído por isso? Peça a Deus para ajudá-lo a escolher palavras melhores, sons e imagens para alimentar sua mente. A sua mente é um campo de batalha espiritual. Embora as forças do mal queiram bombardear sua mente com pensamentos negativos, o Espírito Santo oferece a você um poder maior para pensar positivamente. Seja paciente e cuidadoso sobre como você lida com pensamentos negativos. Monitore seus pensamentos e constantemente pergunte-se se eles se alinham com as verdades de Deus expressas na Bíblia.

5. Leia a Bíblia com frequência e medite sobre o que ela diz. Peça a Deus para ajudá-lo a absorver as verdades contidas em Sua Palavra para que elas comecem a transformá-lo, incluindo a forma como você fala.

6. Peça a um amigo de confiança que tem um relacionamento maduro com Cristo para ajudá-lo a ser responsável pela forma como você fala. Reúna-se com esta pessoa regularmente para discutir abertamente o seu processo de superação da profanação e orem juntos para continuar crescendo.

7. Ore pelas pessoas que você feriu, intencionalmente ou inadvertidamente, por falar palavrões. Também ore para as pessoas que o magoaram no passado através de suas palavras negativas. Perdoai-lhes e peça a Deus para deixá-los ter consciência da Sua presença amorosa.

8. Seja ousado no confronto com pessoas que falam palavrões em sua presença. Lembre-se que as conseqüências de ouvir superam o constrangimento de tomar uma posição contra a negatividade. Os sentimentos do falante podem ser temporariamente feridos, mas você estará ajudando a pessoa mais do que a ferindo. 

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem.” (Efésios 4:29) 

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