O perigo de pregar a verdade bíblica, mas sem Cristo - Se Liga na Informação





O perigo de pregar a verdade bíblica, mas sem Cristo

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Satanás não se importa com a pregação expositiva, desde que se perca o ponto principal da Palavra de Deus. Com efeito, o próprio Satanás se engaja em uma forma de pregação expositiva e encoraja essa forma de exposição bíblica a ser praticada como um meio de propagar seu engano. Russell Moore escreve:
Ao longo do Antigo Testamento, Satanás prega a paz, assim como fazem os anjos de Belém, exceto que ele o faz quando não há paz. Ele aponta as pessoas para as particularidades da adoração ordenadas por Deus – sacrifícios e ofertas e festas – sem os mandamentos proeminentes de amor, justiça e misericórdia. Satanás até mesmo prega para Deus, sobre os motivos apropriados necessários para o discipulado piedoso da parte dos servos de Senhor. No Novo Testamento, o engano satânico leva os escribas, fariseus e saduceus a se debruçarem interminavelmente sobre os textos bíblicos, perdendo apenas o sentido de Jesus Cristo. Eles chegam a conclusões que têm fundamentos parcialmente bíblicos – as mensagens do diabo são sempre expositivas; elas apenas evitam intencionalmente Jesus.


Considere alguns dos perigos dos sermões expositivos não cristocêntricos:

Afirmações verdadeiras, mas enganosas

Muitos pregadores evangélicos contemporâneos afirmam que a pregação expositiva não intencional não evita Jesus, mas algumas abordagens aceitas para a pregação expositiva eclodem metodologicamente em nome de honrar o texto. Por exemplo, Walter C. Kaiser rejeita a possibilidade de um texto possuir um “sensus plenior” canônico (sentido mais pleno), e argumenta que interpretar o significado de cada texto à luz da plenitude da revelação do Novo Testamento é “equivocado historicamente, logicamente e biblicamente. As implicações dessa posição para a pregação são monumentais”. Thomas R. Schreiner afirma: “Se apenas pregamos a teologia anterior, não dividiremos com precisão a palavra da verdade, nem levaremos a mensagem do Senhor às pessoas de nossos dias”.

As consequências são agravadas à luz do fato de que, pelo menos em alguns círculos evangélicos, “o método Kaiser” assumiu o status de guardião da ortodoxia conservadora na interpretação bíblica, como argumenta Richard Schultz, em sua revisão Toward an Exegetical Theology. Muitos pregadores não podem articular a base teórica da analogia de Kaiser da Escritura anterior, ou seu compromisso com a intenção única do autor humano. No entanto, eles assumem esse padrão a cada semana. Pode-se atribuir, de maneira plausível, esse fenômeno a uma mimésis da teoria e técnicas apresentadas durante sua formação acadêmica. Millard J. Erickson escreve:
A hermenêutica evangélica do último século colocou uma grande ênfase no conceito de intenção autoral. Isso foi exibido de várias maneiras, mas uma das mais claras e diretas tem sido a utilização extensiva do pensamento e dos escritos de E. D. Hirsch Jr., em cursos de hermenêutica evangélica. É também evidente nos escritos de mestres evangélicos da hermenêutica, que insistem que uma determinada passagem da Escritura tem apenas um significado, e que esse significado é o significado pretendido pelo autor humano. Walter C. Kaiser, Jr. tem sido o mais consistente e insistente em defender essa ideia, mas outros também procuraram tornar este caso persuasivo.


É possível pregar apenas afirmações verdadeiras da Escritura e, ainda assim, desencaminhar os ouvintes a respeito da verdade da fé, porque nenhuma das verdades da Escritura devem ser entendidas isoladamente. Quando imperativos éticos e morais são proclamados como suficientes, até mesmo abstraídos de Jesus, o resultado é um cristianismo sem cruz, no qual a mensagem central se torna uma exortação a viver de acordo com as regras de Deus. Ouvintes que possuem uma consciência cauterizada podem desenvolver uma atitude de justiça própria: de acordo com seu julgamento, eles estão vivendo adequadamente pelas regras de Deus. Crentes fiéis com consciências suaves podem se desesperar porque sabem que estão constantemente aquém do padrão de Deus.

Em outras palavras, pregar verdades morais desnudas (moralismos) muitas vezes afastam as pessoas da comunhão com Cristo. Bryan Chapell não exagera, quando ressalta que uma “mensagem que simplesmente defende a moralidade e a compaixão continua sub-cristã, mesmo se o pregador puder provar que a Bíblia exige tais comportamentos”. Talvez devamos ir ainda mais longe e dizer que tais sermões, embora bem-intencionadas, são anticristãs e um instrumento do engano satânico.
Moore explica o perigo cósmico da pregação não cristocêntrica à luz da narrativa da tentação (Mateus 4:1-11, Marcos 1:12-13, Lucas 4:1-13):
Por que isso é tão importante? Por que não posso simplesmente dizer coisas verdadeiras das Escrituras sem mostrar como elas se encaixam em Cristo? É porque, além de Cristo, não há promessas de Deus. Na tentação de Jesus, Satanás cita as Escrituras, e ele não cita erroneamente as promessas: Deus quer que Seus filhos comam pão, não morram de fome diante de pedras; Deus protegerá o Seu ungido com os anjos do céu; Deus dará ao seu Messias todos os reinos da terra. Tudo isso é verdade. O que é satânico sobre tudo isso, porém, é que Satanás queria que nosso Senhor entendesse essas coisas à parte da cruz e do túmulo vazio. Essas promessas não podem ser abstraídas do Evangelho.

Perdendo o ponto de entrada

A preocupação de D.A. Carson de que os evangélicos conservadores possam substituir o evangelho sem rejeitá-lo é particularmente aplicável à pregação expositiva. Se um pregador expõe, versículo por versículo, através dos livros da Bíblia, instando a mudança moral, ética e comportamental sobre os ouvintes sem mediar o significado e aplicação do texto através de Jesus, ele ensina uma lição perigosa, mesmo se faz uma apresentação do evangelho no final. A mensagem é que, embora o evangelho seja necessário como ponto de entrada, ele não está no centro da vida cristã diária. Tal pregação comunica que, depois que o crente atravessa a porta do evangelho, seu foco deve ser observar as regras de Deus, aprender os princípios atemporais e observar também quais personagens bíblicos imitar e quais rejeitar. Nenhuma dessas preocupações é o centro da mensagem bíblica.

Graeme Goldsworthy sugere corretamente que a razão pela qual essa abordagem da pregação é prevalente e popular é porque “todos nós somos legalistas no coração”.
Além disso, gostaríamos de poder afirmar que cumprimos todos os tipos de condições, permanecendo completamente rompidas ou nos livrando de todos os pecados conhecidos, para que Deus nos abençoe verdadeiramente. O pregador pode ajudar e estimular esta tendência legalista que está no coração do pecado dentro de todos nós. Tudo o que temos a fazer é enfatizar nossa humanidade: nossa obediência, nossa fidelidade, nossa rendição a Deus, e assim por diante. O problema é que essas coisas são todas verdades bíblicas válidas, mas se as tiramos da perspectiva e ignoramos o relacionamento delas com o evangelho da graça, elas substituem a graça pela lei.

Perseguir o significado de cada parte da história bíblica à luz de Cristo não é “des-historicizar” o texto bíblico; antes, é uma questão de levar a história bíblica a sério: é intencional; está indo a algum lugar.

Dois clichês para se evitar

Os pregadores devem evitar os dois clichês de sermão mais comuns: 1) O previsível trecho de Jesus (todo sermão é vago, o discurso genérico de Jesus) e 2) O bit previsível da moralidade (imperativos éticos abstraídos de Jesus). O primeiro é cristocêntrico, mas não expositivo; o segundo é expositivo, mas não cristocêntrico. Ambos distorcem a Bíblia e correm o risco de excluir a mensagem do evangelho bíblico. Os expositores devem proclamar a Escritura com consciência do lugar histórico e do gênero de um dado texto, mas ter em mente que a Bíblia é num todo canônica, e possui um “metagênero” cristocêntrico – a história do evangelho.

Autor: David E. Prince
Tradução: Mirian Gomes
Divulgação: Reformados 21

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