VIDA CRISTÃ: O desenvolvimento psicossocial e os estágios da fé na adolescência - Se Liga na Informação





VIDA CRISTÃ: O desenvolvimento psicossocial e os estágios da fé na adolescência

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Por Cristiano Nickel
1 INTRODUÇÃO
Pesquisas recentes no campo da Psicologia do Desenvolvimento e dos Estudos Culturais definem três elementos sincrônicos que influenciam as mudanças na fase da puberdade até a idade jovem-adulta: os aspectos “biológico, psicológico e social”. (DAUNIS, 2000 p. 18).
Realizaremos, nesse trabalho, um estudo introdutório sobre os aspectos do desenvolvimento do adolescente sob a égide da Psicologia do Desenvolvimento.
2 ADOLESCÊNCIA E PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
A Psicologia do Desenvolvimento estuda a gênese dos processos biopsíquicos, as determinações e mudanças causadas pelas interações psicossociais e os próprios aportes do sujeito que se desenvolve. “Essa ciência observa as principais características e comportamentos típicos e as variantes que se devem à enculturação do sujeito” (DAUNIS, p. 19). A adolescência é estudada e analisada como um estágio de desenvolvimento que revela de forma própria fenômenos bastante complexos como um “desdobramento de uma progressão gradual”.
2.1 Jean Piaget
Jean Piaget, através do estudo do desenvolvimento do conhecimento, observa que entre os 12 e 15 anos, a fase da adolescência ocorrem transformações relevantes nas estruturas epistemológicas. “Nessa fase, os jovens adquirem a capacidade de reflexão abstrata, formulam teorias, hipóteses e analogias. O adolescente pensa como adulto, sem ser adulto” (DAUNIS, 2000, p. 31).
2.2 Erik Erikson
Para Erikson, psicólogo do desenvolvimento do ser humano, cada fase da vida é superada mediante superação de crise correspondente – transições necessárias que cada etapa do desenvolvimento precisa superar de forma positiva. A fase da adolescência é definida como uma fase de superação entre identidade versus confusão de identidade e papeis. A pergunta fundamental é: “eu sou, mas quem é que eu não sou?” (DAUNIS, 2000, p. 33). O adolescente apresenta dificuldade em sintetizar de forma concomitante o passado o presente e o futuro, com o “intuito de alcançar um sentimento mais claro de quem ele é” (SUÁREZ, 2005, p. 34). Nessa fase há uma tendência do “adolescente ter dificuldade ou incapacidade de fixar-se numa identidade pessoal, profissional, forte apego ao clã, intolerância, seguindo facilmente ideias totalitárias”. (DAUNIS, 2000, p. 32). Com a massificação das redes sociais na internet, onde os indivíduos “são forçados a torcer e moldar sua identidade” (BAUMAN, 2005, p. 96), o adolescente desenvolve múltiplas identidades através do Facebook e do Instagram p.e.
2.3 Roberto Daunis
Segundo Daunis (2000, p. 57), as tarefas e desafios na adolescência representam para os jovens, os pais e os orientadores um amplo campo. Essas tarefas são: integrar as mudanças biopsíquicas da puberdade, aprender a lidar e viver com elas, para poder sentir-se à vontade no novo corpo; estruturar as novas relações sociais e desligar-se da fusão íntima com a família de origem; dar aportes próprios para a enculturação em busca de definições pessoais em respeito a crenças, normas e valores éticos assim como padrões de comportamento auto responsável; crescer na autonomia pessoal dentro da interdependência social; preparar-se ofensivamente para a escolha profissional – identidade profissional – aptidões, formaturas e possibilidades reais de emprego e elaborar a própria identidade pessoal mediante novas identificações provisórias e diferentes assunções e escolhas de papeis, o que resulta na construção do self a partir da individuação da personalidade (Quem sou eu? Como os outros me veem?).

2.4 James Fowler
Na corrente da Psicologia do Desenvolvimento definiu o desenvolvimento da fé nos diversos estágios da vida. Para Fowler:
A fé é o modo que uma pessoa ou um grupo penetra no campo de força da vida. É o nosso modo de achar coerência nas múltiplas forças e relações que constituem a nossa vida e de dar sentido a elas. A fé é o modo pelo qual uma pessoa vê a si mesma em relação aos outros, sobre um pano de fundo de significados e propósitos partilhados. (FOWER, 1981, p. 15)
A fé se forma nos primeiros relacionamentos com aqueles que cuidam de nós na infância. Fowler entende que por estarmos preocupados com o sentido da vida e pela forma como a ordenamos, nos engajamos em questões de fé. A fé é relacional, “é a maneira pela qual um pessoa um grupo responde ao valor e poder transcendentes, conforme são percebidos e apreendidos através das formas da tradição cumulativa.” (FOWLER, 1981, p. 23)
O estágio da fé na adolescência é denominado de “fé sintético-convencional” (FOWLER, 1981, p. 130). Nessa fase o adolescente precisa de exemplos, pois ele crê que todo o mundo está olhando para ele, podendo se sentir narcisista. A experiência de mundo amplia-se além da família. É um estágio conformista no sentido de que está sintonizado com as expectativas e julgamentos de outros significativos e ainda possui uma percepção suficientemente segura de sua própria identidade e julgamento autônomo para construir e manter uma perspectiva independente (FOWLER, 1981, p. 131). As crenças e valores são sentidas – no entanto, é típico que sejam assumidos de forma tácita – a pessoa “habita” neles e no mundo de sentido por eles mediado. Não houve chance de sair fora deles para refletir sobre eles ou examiná-los de maneira explícita e sistemática. “A pessoa tem uma ‘ideologia’ – um conjunto mais ou menos consistente de valores e crenças, mas não a objetivou para avaliação e, em certo sentido, não tem consciência de possuí-la” FOWLER, 1981, p. 147). As diferenças de ponto de vista em relação a outras pessoas são experimentadas como diferenças no “tipo” de pessoa. A autoridade se localiza nos portadores de papeis tradicionais de autoridade. A capacidade emergente desse estágio é formação de um mito pessoal – “o mito do próprio devir da pessoa em identidade e fé, incorporando o passado e o futuro previsto em uma imagem de ambiente último unificada por características de personalidade” (FOWLER, 1981, p. 148). Um dos perigos que merece destaque são as traições interpessoais que podem fazer surgir ou o desespero niilista acerca de um princípio pessoal do “ser último”, ou uma intimidade compensatória com Deus, não relacionada a relações mundanas. (FOWLER, 1981, p. 148)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O caminho do desenvolvimento do adolescente rumo à autonomia, maioridade e liberdade é motivada por dois fatores: a parte dos educadores (figuras de autoridade) e a parte do próprio adolescente. É necessário que os pais e educadores possibilitem experiências; apoiem o desdobramento das crises e principalmente dialoguem com o adolescente. “A questão primordial no desenvolvimento do adolescente é incentivar a tomada de decisões importantes” (DAUNIS, 2000, p. 23). Os próprios adolescentes precisam desenvolver a reflexão sobre as experiências, sobre o sentido da vida, aceitando o seu lugar na família, tendo a disposição para assumir responsabilidades e para entrar em novos relacionamentos.
Considerando apenas alguns teóricos da Psicologia do Desenvolvimento nesse trabalho, podemos concluir que a fase da adolescência é regida pelas primeiras operações formais, pelo desenvolvimento da identidade e na busca de exemplos que fundamentam a fé. É evidente que os quatro teóricos que foram destacados trabalham com a importância do relacionamento (positivo e negativo) para a formação de identidade. O adolescente desenvolve expectativas de concordância interpessoal, valoriza o grupo e em representantes dignos em termos pessoais, de tradições de crenças e valores corroborando para a construção de símbolos que são assumidos globalmente. Assumindo tais pressupostos teóricos, é necessário conciliar os aspectos da Psicologia da Educação com o desenvolvimento ministerial cristão com o jovem e adolescente – tema a ser desenvolvido no próximo artigo.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Identidade. São Paulo: Zahar: 2005.
DAUNIS, Roberto. Jovens, desenvolvimento e identidade. São Leopoldo: 2000.
FOWLER, James W. Estágios da fé. São Leopoldo: Sinodal, 1992.

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