O vice-governador João Leão (PP) não parece muito contente com o fato de o PT já ter anunciado a pré-candidatura do senador Jaques Wagner ao governo da Bahia, em 2022, sem consultar os demais partidos que compõem o grupo político que dá sustentação ao governo petista há 14 anos. Repetindo uma proposta que ganha corpo entre seu partido e o PSD, do senador Otto Alencar, ele defende que o nome para o governo deve sair de um dos partidos, mas exclui a possibilidade da ausência do PT na chapa.
Leão admite o interesse em ser governador do Estado para atender, segundo ele, a um clamor dos baianos. Também aponta que a sua história com mandatos parlamentares durante 20 anos em Brasília dá a ele um trânsito no atual governo federal para conseguir recursos e projetos para a Bahia. O secretário do Planejamento ressalta que, “sai governo, entra governo”, as pessoas são sempre as mesmas na capital federal – ressalta, inclusive, o bom relacionamento com os atuais ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Bento Albuquerque (Minas e Energia).
Ambos são conhecidos dele desde que era deputado federal. O vice-governador diz ainda que o apoio dado pelo PP ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não macularia uma candidatura dele ao governo estadual; ressalta, para isso, a independência de que gozam as lideranças estaduais da sigla diante das deliberações nacionais – Em 2018, lembra, o PP indicou a vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), mas não apoiou o tucano na Bahia.
Ao comentar sobre o campo de oposição no Estado, o vice-governador diz que faltou maturidade ao ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), ao romper politicamente com o ministro João Roma (Cidadania). Para Leão, Neto deveria seguir o exemplo do senador ACM, que era ‘carinhoso’ com os amigos. O progressista diz que Neto ‘jogou uma pedra na cabeça de Roma’ e prevê uma outra briga do democrata com o deputado Elmar Nascimento (DEM), que deseja disputar o Senado e está de malas prontas para desembarcar no PSL.
Confira a entrevista abaixo:
Política Livre – Muito se tem especulado sobre quem será o candidato ao governo pelo grupo que está na base do governador Rui Costa. O PT já lançou a pré-candidatura do senador Jaques Wagner. Mas e o senhor? Almeja ser governador da Bahia?
João Leão – O único que não pode [se candidatar] no grupo nesse momento é Rui Costa, que não pode ser candidato à re-reeleição. Você tem o senador Otto Alencar que quer e pode; tem o senador Jaques Wagner, que quer e pode; tem o senador Angelo Coronel, que quer e pode; tem a deputada Lí,dice da Mata, que quer e pode e você tem João Leão que quer e pode.
– O senador Angelo Coronel defendeu que deveria haver uma chapa encabeçada por PP ou PSD para haver uma oxigenação no cenário político baiano polarizado há muito por DEM e PT. O senhor seria esse nome para oxigenar a política baiana?
Primeiro eu não concordo muito, concordo até certo ponto com o senador Angelo Coronel, mas eu acho que não temos que deixar o PT de fora. O PT tem que fazer parte efetiva do nosso futuro governo. Então nós estamos há 14 anos juntos e agora vamos nos separar? Por quê? Apoiamos o PT com Jaques Wagner, apoiamos o PT com Rui Costa e agora, nesse ponto, o senador Angelo Coronel tem razão: chegou a hora de o PT dar uma “vezinha”. Não pode ser exclusivamente “venha a nós”; nós somos parceiros. Mas eu só quero tratar disso após 2022. Então vamos sentar o PP, o PT, o PSD, o PSB, o PCdoB, toda a nossa base aliada.
– Havia algum fundo de verdade na hipótese de o senhor ser candidato a deputado estadual com acordo para presidir a Assembleia? O deputado Cacá Leão já havia dito que essa história não tinha fundamento e que quer ver o senhor candidato ao governo. Vai fazer a vontade de Cacá?
Isso de ser candidato a deputado estadual não existe. Mas eu não quero atender ao pedido do deputado Cacá Leão (para ser candidato ao governo), mas do povo da Bahia.
– O PT, em outros Estados, tem uma orientação de ceder a cabeça de chapa para candidaturas mais viáveis. Mas na Bahia a tendência parece não ser essa. A insistência dos petistas pode ocasionar que, em 2022, ocorra uma fragmentação de candidaturas como houve nas disputa pela Prefeitura de Salvador?
De maneira nenhuma, não existe a mínima possibilidade. O que pode acontecer é o companheiro Jaques Wagner abrir (a cabeça de chapa).
– O senhor não tem sido um vice-governador decorativo. Pelo contrário, como secretário do governo Rui Costa, agora à frente do Planejamento, tem se movimentado por investimentos para a Bahia e, nesta semana, teve encontros com ministros em Brasília com este propósito. Pertencer ao PP, que nacionalmente está na base do presidente Jair Bolsonaro, facilita esse trânsito?
O transito lá em Brasília não é de partido nenhum, é uma história que eu tenho com todos os ministros. Grande parte dos ministros de Bolsonaro foram meus colegas de parlamento. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, nós trabalhamos juntos, e ele era técnico, na Comissão Mista de Orçamento. Ele é um ministro excepcional, é uma figura maravilhosa, com um mandato à frente do ministério excepcional. O presidente Bolsonaro tinha que colocá-lo no Ministério da Saúde; pois um técnico, quando é bom, conserta tudo. O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, trabalhou comigo na Câmara dos Deputados, quando era assessor parlamentar da Aeronáutica. Tive a honra de receber todas honras da Aeronáutica, do Exército e da Marinha. Então Brasília, entra governo, sai governo, as pessoas são as mesmas. E eu fiz muitas amizades em 20 anos como parlamentar. No TCU, quem liberou a Ferrovia de Integração Oeste Leste (FIOL) foi um tal de João Leão, e Tarcísio sabe disso. Essa minha história faz com que eu tenha facilidade para resolver isso.
– No início de maio, o senhor enviou aos presidentes da Câmara e do Senado, ao ministro da Infraestrutura e também à bancada baiana uma sugestão para que Bahia, Sergipe e Alagoas fiquem fora da renovação da concessão da Ferrovia Centro Atlântica.
Precisamos licitar isso porque a atual concessionária, ligada à Valec, só fez acabar com a ferrovia na Bahia.
– O senhor até lembrou que, de 1996 para cá, a malha ferroviária baiana reduziu em quase 400 quilômetros. Já houve alguma resposta a esse pleito para a não renovação?
Estive lá essa semana com a equipe do ministro da Infraestrututa, da Valec, que é quem dá a concessão, tratando disso. Estamos fazendo um trabalho [incluindo a busca por ampliar a malha ferroviária no Estado] para aumentar a receita do Estado da Bahia. Até abril desse ano, nós arrecadados R$ 17,9 bilhões de ICMS; no ano passado, foram R$ 11,7 bilhões. Nós temos uma arrecadação a mais de R$ 6 bilhões no mesmo período.
– A base parlamentar que dá apoio ao governo na Bahia vinha reclamando de falta de atenção de Rui. A chegada de Luiz Caetano à Serin pode mudar esse cenário?
Primeiro, deixa eu defender o governador. O governador da Bahia, ele não pode atender todo dia prefeito, deputado, isso e aquilo, porque ele tem uma política macro no Estado da Bahia que ele precisa atender. Ele tira um dia por semana para atender aos deputados e aos prefeitos. O problema é que deputado quer ser atendido todo dia, e o prefeito chega aqui com ele. Então o deputado quer chegar com o prefeito e colocar ele de frente com o governador e não pode ser assim. Por isso que o governador tem uma rede de secretários que fazem esse trabalho, e eu, modéstia à parte, faço isso muito bem. Atendo a deputados e prefeitos de todos os partidos políticos, mas, sendo governador, não vou ter tempo de fazer o que eu faço hoje. Deputado comigo não precisa marcar audiência: ele chegou lá com o prefeito, ele é o próximo. Mas com o governador não pode ser assim.
– Mas o senhor acha que o Caetano pode ajudar?
Caetano é um animal político. E Caetano vai fazer. Pois quem estava fazendo isso aqui era eu. Agora quando vêm me procurar, eu pergunto: “já conversou com Caetano?”. Se diz que não, então eu digo para ir primeiro falar com Caetano. Se Caetano não resolver, digo para vir resolver comigo.
– Esse apoio nacional do PP a Bolsonaro pode de alguma forma “manchar” uma candidatura do senhor ao governo?
Na eleição passada [de 2018], nós fizemos uma aliança com o PSDB a nível nacional e lançamos a candidata a vice-presidente, a senadora Ana Amélia. Nem o senador Ciro Nogueira, que é presidente nacional do partido, nem eu apoiamos a aliança nacional. Eu sou vice-presidente nacional. O PP tem uma grande vantagem: cada Estado é independente.
– O desempenho do senador Otto Alencar na CPI da Covid vem sendo bastante elogiado. Isso catapulta uma candidatura do PSD ao governo?
Otto pode ser candidato naquilo que ele quiser. É um grande quadro.
– Olhando agora para o terreno do vizinho, o senhor entende que essa briga entre o ex-prefeito ACM Neto e o ministro João Roma pode multiplicar as candidaturas de oposição ao grupo do governador Rui Costa?
O Neto – eu não gosto de falar mal das pessoas – mas, como analista político que eu também sou, todo mundo acha que ele errou muito. Ele precisava ter mais maturidade para aceitar a ida do João Roma para ser ministro lá: ficava na dele, não brigava com João, que tem compromisso com Neto. Agora encerraram-se todos os compromissos de Roma com Neto. O ministro é um grande quadro. E você pega o cara e joga fora? É burrice. O deputado Elmar Nascimento daqui a pouco vai brigar com Neto também porque, no grupo de Neto, é o grupo do “eu sozinho”, coisa que Wagner não é. Otto diz aí que pode ser candidato a governador, a senador, e você não vê uma palavra de Wagner criticando Otto? Eu digo tudo o que digo, e você não vê uma palavra de Wagner me criticando? Mas, no grupo de Neto, você põe a cabeça do lado de fora, tome-lhe cacete, “vou ficar de mal”.
>– O senhor acha que há similaridade com o estilo do senador ACM?
Ele precisava adquirir algumas qualidades do avô dele, que era carinhoso. Por exemplo, João Roma era amigo de Neto, e o senador não queria saber disso não: você vai ser ministro? Vá lá, mas cuide de mim. Era o que o senador faria. Pegaria João Roma, colocaria no colo e faria carinho. Neto jogou pedra na cabeça de João Roma.
– Um cenário também projetado é a possível multiplicação de candidaturas tanto na base de Rui quanto naquela que era a base de ACM Neto.
Não me arrume briga, pelo amor de Deus! Para mim não existe a menor possibilidade de não estarmos juntos. Agora com João Leão governador, ou com Otto governador, ou com Wagner governador. Tudo é possível desde que haja conversa. O que não pode ser é o PT decidir e vai ser. Aí Otto não aceita, João Leão não aceita, Lídice não aceita. Eles não consultaram ninguém. Está errado, bonitão!
Fonte: https://politicalivre.com.br/
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